Lembro-me bem de uma história contada
pela professora de comunicação e expressão quando cursava o ginasial, do Pedro
Malazarte. Era a de um tal de Américo Pisca-Pisca. Ele tinha o
hábito de pôr defeito em tudo que estava à sua volta e criticava até a
natureza. - Vejam só, dizia ele, apontando para uma árvore. - Veja esse pé de
jabuticaba enorme, sustentando frutas tão pequenas. Ao apontar para a
aboboreira disse: - Veja que frutos tão grandes esparramados pelo chão... Se eu
pudesse reconstruir a natureza, eu faria o contrário.
A estrada da vida também é cheia de sinais e orientações |
É fato que muitos desejam sair da
mesmice, do que costumam chamar de rotina e buscam por algo diferente, mas nos esquecemos que a rotina nos dá experiência. Certo dia
eu estava zapeando os canais da
televisão, procurando alguma coisa boa para assistir, algo raro
ultimamente, quando me deparei com uma
cena de um desenho animado. Achei curioso o que estava passando e parei para
assistir a cena
do personagem principal que havia sido colocado na máquina do tempo. Ao chegar no passado, esse personagem do futuro
viu um homem pedalando uma bicicleta com muita dificuldade, com “rodas”
quadradas de madeira. Tentando ajudar, com seu próprio bico, começou a
arredondar as duas “rodas” quadradas.
Ao terminar, a bicicleta ganhou tanta velocidade que o ciclista perdeu o controle, e esborrachou-se ao bater contra uma
rocha, deixando-o ferido com estrelinhas
circulando ao redor da cabeça. Minha esposa, que estava junto comigo assistindo
àquela cena disse uma frase que me levou a pensar: “Ele conseguiu inventar a roda, mas esqueceu dos freios”.
Muitas vezes, queremos fazer coisas
diferentes e estar à frente do nosso tempo, mas queimando etapas que deveriam
ser cumpridas. É lá na frente que vamos deparar com as dificuldades no lidar
com as novas realidades. O preparo deve estar de acordo com a realidade
presente. Esse aprendizado é construído aos poucos, com as pequenas atitudes, cumprindo cada etapa como deve ser cumprida. Em nossa busca por algo novo, extrapolamos querendo chamar atenção para as nossas
propostas, sem considerar os desafios a enfrentar. A estrada da vida é cheia de desafios; de altos e baixos; margeada por rochas e abismos. Mas em todos os trechos, os avisos estão presentes. As vezes, na tentativa de buscar superação, nos entregamos demasiadamente no fim, sem pensar nos meios.
Mesmo diante dos "atoleiros" da vida, insistimos em prosseguir para cumprir uma obrigação sem o preparo necessário. |
Fazer diferente só para sair da rotina e não
ser igual aos outros, sem um propósito sólido e real, pode acabar da maneira como não gostaríamos. Toda
construção segura deve ser feita sobre uma base, dentro de seu tempo e espaço.
É preciso responsabilidade nas ações. São
necessários cálculos sobre os riscos, e tudo o que for feito, seja feito sobre
bases sólidas, observando as experiências à nossa volta. A roda já foi inventada; precisamos apenas faze-la rodar, mas não esquecer da manutenção
dos freios.
Esse pode
ser o maior desafio do ser humano. A ação do movimento é natural, porém,
refrear, parar, é uma questão de decisão. E em muitos casos, é uma necessidade. Questão de vida. Quando estamos conscientes das nossas ações, paramos quando queremos. Mas parar quando é necessário, pode ser sinal que "passamos do ponto". Quando percebemos que precisamos frear, no momento em que já estamos arriscando a vida, pode sinalizar, também, que tentamos acertar, porém, alguma coisa saiu do nosso controle. E, as vezes, conseguimos reverter a situação, adquirindo aprendizado pela experiência.
Você tem o
direito de tentar novas experiências, fazer algo novo e diferente. Mas é
necessário que você tenha noção de seus limites e não tentar avançar, sem ter a certeza de estar preparado para enfrentar os desafios.
Aprenda que tudo nos é lícito, mas
nem tudo nos convém, como disse o Apóstolo Paulo. Há questões morais e espirituais que precisam
estar bem definidas para que identifiquemos o sinal vermelho, diante de tantas
luzes e cores que se misturam.
Afinal,
sábio é quem constrói sua casa sobre a rocha. No momento do vendaval ela
continua firme, inabalável. Sábio é aquele que antes de descer a ladeira, verifica os freios. Aquele que não se entrega cegamente às emoções a ponto de levá-lo a arrepender-se de suas consequências. Manter o controle do que está ao nosso alcance, é atitude previdente. É bem verdade que isso não é uma fórmula infalível, pois não podemos tratar as coisas da vida como um cálculo matemático, mas precisamos avaliar as probabilidades diante das escolhas que fazemos.
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