quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

VERIFIQUE OS FREIOS


Lembro-me bem de uma história contada pela professora de comunicação e expressão quando cursava o ginasial, do Pedro Malazarte.  Era a de  um tal de Américo Pisca-Pisca. Ele tinha o hábito de pôr defeito em tudo que estava à sua volta e criticava até a natureza. - Vejam só, dizia ele, apontando para uma árvore. - Veja esse pé de jabuticaba enorme, sustentando frutas tão pequenas. Ao apontar para a aboboreira disse: - Veja que frutos tão grandes esparramados pelo chão... Se eu pudesse reconstruir a natureza, eu faria o contrário.
A estrada da vida também é cheia de sinais
e orientações

É fato que muitos desejam sair da mesmice, do que costumam chamar de  rotina e buscam por algo diferente, mas nos esquecemos que a rotina nos dá experiência.  Certo dia eu estava zapeando os canais da televisão, procurando alguma coisa boa para assistir, algo raro ultimamente,  quando me deparei com uma cena de um desenho animado. Achei curioso o que estava passando e parei para assistir  a  cena  do personagem principal que havia sido colocado na máquina do tempo. Ao chegar no passado, esse personagem do futuro viu um homem pedalando uma bicicleta com muita dificuldade, com  “rodas” quadradas de madeira. Tentando ajudar, com seu próprio bico, começou a arredondar as duas “rodas” quadradas. Ao terminar, a bicicleta ganhou tanta velocidade que o ciclista perdeu o controle, e esborrachou-se ao bater contra uma rocha, deixando-o ferido com estrelinhas circulando ao redor da cabeça. Minha esposa, que estava junto comigo assistindo àquela cena disse uma frase que me levou a pensar: “Ele conseguiu inventar a roda, mas esqueceu dos freios”.

Muitas vezes, queremos fazer coisas diferentes e estar à frente do nosso tempo, mas queimando etapas que deveriam ser cumpridas. É lá na frente que vamos deparar com as dificuldades no lidar com as novas realidades. O preparo deve estar de acordo com a realidade presente.  Esse aprendizado é construído aos poucos, com as pequenas atitudes, cumprindo cada etapa como deve ser cumprida. Em nossa busca por algo novo, extrapolamos querendo chamar atenção para as nossas propostas, sem considerar os desafios a enfrentar.  A estrada da vida é cheia de desafios; de altos e baixos; margeada por rochas e abismos. Mas em todos os trechos, os avisos estão presentes. As vezes, na tentativa de buscar superação, nos entregamos demasiadamente no fim, sem pensar nos meios. 
Mesmo diante dos "atoleiros" da vida, insistimos em
prosseguir para cumprir uma obrigação
 sem o preparo necessário.
 

Fazer diferente só para sair da rotina e não ser igual aos outros, sem um propósito sólido e real, pode acabar da maneira como não gostaríamos. Toda construção segura deve ser feita sobre uma base, dentro de seu tempo e espaço. É preciso responsabilidade nas ações.   São necessários cálculos sobre os riscos, e tudo o que for feito, seja feito sobre bases sólidas, observando as experiências à nossa volta. A roda já foi inventada; precisamos apenas faze-la rodar, mas não esquecer da manutenção dos   freios.

Esse pode ser o maior desafio do ser humano. A ação do movimento é natural, porém, refrear, parar, é uma questão de decisão. E em muitos casos, é uma necessidade.  Questão de vida. Quando estamos conscientes das nossas ações, paramos quando queremos. Mas parar quando é necessário, pode ser sinal que "passamos do ponto". Quando percebemos que precisamos frear, no momento em que já estamos arriscando a vida, pode sinalizar, também, que tentamos acertar, porém, alguma coisa saiu do nosso controle. E, as vezes, conseguimos reverter a situação, adquirindo aprendizado pela experiência. 

Você tem o direito de tentar novas experiências, fazer algo novo e diferente. Mas é necessário que você tenha noção de seus limites e não tentar avançar, sem ter a certeza de estar preparado para enfrentar os desafios. 
É sempre assustador verificar os freios e perceber
que não funcionam

Aprenda que tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convém, como disse o Apóstolo Paulo.  Há questões morais e espirituais que precisam estar bem definidas para que identifiquemos o sinal vermelho, diante de tantas luzes e cores que se misturam. 

Afinal, sábio é quem constrói sua casa sobre a rocha. No momento do vendaval ela continua firme, inabalável. Sábio é aquele que antes de descer a ladeira, verifica os freios. Aquele que não se entrega cegamente às emoções a ponto de levá-lo a arrepender-se de suas consequências. Manter o controle do que está ao nosso alcance, é atitude previdente. É bem verdade que isso não é uma fórmula infalível, pois não podemos tratar as coisas da vida como um cálculo matemático, mas precisamos avaliar as probabilidades diante das escolhas que fazemos. 

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