O caminho está sempre aberto para a volta. É a nossa decisão que nos motiva a fazer o sentido inverso. |
Foi
num domingo à noite, no verão de 1992, que experimentei um pouco a sensação que vive alguém que não tem para onde voltar. Lembro-me
de uma frase que disse certa vez o avô de minha esposa ao chegar em casa: “Coisa boa é ter um
lugar para voltar”. E isso o que ele falou eu senti,
na prática. Entendi o que significa isso.
Nessa
época, eu apresentava um programa de rádio na Solimões em Nova Iguaçu, e fui convidado por
um pastor da Assembléia de Deus, que fazia programa na mesma emissora, a pregar em sua igreja, que ficava no 3º Distrito da cidade de Engenheiro Paulo de Frontin, chamado Morro Azul do Tinguá, distante mais de 100 km do Rio de Janeiro.
Preguei
para uma igreja cheia, fervorosa, pois a
programação daquele dia foi divulgada em vários lugares, além do rádio.
Ao
sair, quase perdi o último ônibus que descia estrada abaixo, na serra esburacada e escura, ainda sem pavimentação. Cheguei à estação de
Paracambi, quando fui informado que o último trem, que descia para a estação
D.Pedro II (Central do Brasil) já havia partido. O próximo voltaria a circular
só às 04h da madrugada.
Não
tinha o que fazer. Fiquei alí, no banco da estação e já passava da meia noite. Era bem em frente a uma das principais avenidas da pequena cidade e, de onde eu estava, fiquei observando o que
se passava do lado de fora das grades que cercavam a linha férrea. Aos poucos,
o movimento foi diminuindo. Os últimos bares fecharam as portas. Os carros, aos
poucos, passavam com menos frequência. Os que estavam estacionados à beira das calçadas, começavam a deixar o local. De repente, as ruas ficaram vazias. Poucos andarilhos sem teto, eram vistos falando alto, com
garrafas de bebida na mão que lhes serviam de companhia. Eles acomodaram-se num banco de praça logo adiante. Os
cachorros farejavam os latões de lixo em frente às lanchonetes. Alguns deles foram deitar-se perto dos mendigos, que os acariciavam.
O
movimento foi diminuindo. E eu ali, sentado no banco da estação, contando as
horas para a volta do trem.
Saber que temos um lugar para voltar é sempre um alívio. |
E
comecei a pensar: Eu sabia que tinha uma casa para voltar. Ali, no banco da
estação, sabia que tinha uma cama para dormir; roupas para trocar. A expectativa do trem
voltar a circular era uma realidade. Mas o que me restava era esperar. Esperar
o momento de embarcar de volta para casa.
Quão
horrível deve ser viver ao léu; sem rumo, sem expectativa; sem esperança. O andarilho, talvez, adaptado com a vida que leva, tenta superar suas “dificuldades”
com os meios que desenvolvem. Acabam fazendo das ruas o seu lugar; o banco da
praça a sua cama; o céu, o seu teto - acomodam-se, pelo simples fato de aceitar a situação porque parece não haver outra alternativa. É assim que somos orientados. Se não podemos mudar, precisamos aceitar. Mas essa visão de vida pode até acalmar-nos em certos momentos; trazer-nos conforto, pois, se não podemos fazer nada para mudar, deixa de recair sobre nós o "peso" da responsabilidade. Mas, vivemos uma vida mal resolvida. Há sempre algo lá no fundo da alma que clama.
Se pararmos para pensar um pouco, vamos perceber que todos somos como andarilhos aqui, esperando que um
dia encontremos um rumo. Parece que estamos sempre no banco da estação,
esperando o trem chegar. E nesse intervalo, quantas vezes procuramos meios para
vivermos com mais conforto, ainda que não
sendo aquilo que realmente desejamos. Algumas vezes, muitos se acostumam com a
situação e criam até raízes profundas onde vivem, como uma maneira de
sobreviver. Mas, de fato, isso não nos tira da condição de “andarilho”, porque não completamos a caminhada. Ainda falta alguma coisa.
Nosso deserto pode até florescer e nos dar conforto. Mas corremos o risco de parar a caminhada. |
Assim, vamos
“costurando”, driblando nossos problemas; tentamos amenizar os impactos dos empecilhos do
caminho; fazemos amizade com o perigo, para que ele não seja tão assustador;
consideramos amigo aquele que nos dá um pedaço de pão ou que nos oferece alguma oportunidade. Assim vamos
sobrevivendo. E, de vez em quando, no momento em que refletimos sobre a nossa vida,
percebemos que algo nos falta. É algo profundo, espiritual; um vazio que não
sabemos explicar. E, diante disso, tentamos nos distrair, para passar o nosso tempo buscar alguma coisa
que disfarce nossa carência e que alivie a ansiedade. Mas esse vazio continua
gritando dentro de nós. Porque temos uma casa para voltar. Com o tempo, vamos
nos esquecendo, acostumando-nos, criando mecanismos de sobrevivência, no
momento da espera. Se por um lado, esse mecanismo de sobrevivência nos
conforta, por outro lado, pode nos fazer perder a vontade de voltar para casa. Porque,
certamente, todos nós possuímos a capacidade de adaptação e de renovação e, isso desenvolvemos exatamente por termos saído
de casa pela primeira vez. Por isso é
preciso manter o foco, o propósito, o objetivo de voltar para casa. É esperar
no banco da estação, sem se distrair. É manter no coração o desejo de voltar.
Porque a casa está sempre no mesmo lugar. O caminho pelo qual saímos de casa, é
o mesmo que está aberto para que voltemos. Podemos até encontrar o oásis no deserto desta vida, mas ele não representa o fim da estrada.
Muito bom. esta e a realidade da vida. a decisao esta em nossa mao. so depende de mim, tudo ja foi feito,por Jesus, agora e a minha vez... valeu mano. Deus continue abencoando vc. e sua familia.
ResponderExcluirQue prazer ter esse novo contato com você, amigo Adão Menegatti. Que Deus continue a iluminar a sua vida, onde quer que esteja.
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