“Quando alguém que deve trabalhar em equipe, sente a necessidade de
aparecer mais que os outros, esse já não
trabalha mais em equipe”
A motivação
tem muita relação com o que fazemos, mas é o resultado que mostra a
competência que temos. No mundo competitivo, em todas as áreas, somente os que
trazem os melhores resultados ou, no mínimo, aqueles esperados, dentro das possibilidades óbvias, é que conseguem
firmar-se e conquistar credibilidade. Mas tudo deve ser feito dentro da decência,
honestidade e generosidade. Quando trabalhamos pensando apenas em nós mesmos,
poderemos sair machucados de certas disputas. Nem sempre feridas expostas, mas feridas emocionais.
O que propagamos a nosso respeito só é identificado pelo que fazemos |
Há os que se especializam no
marketing pessoal, mas não avançam mais que isso. As mudanças que conseguem
realizar ou suas conquistas são rasas, superficiais. Alguns podem executar
grandes construções, mas com bases vulneráveis.
É o caráter de cada um que define que material
usará nessa construção ou que tipo de
arma usará para suas conquistas.
Os discursos prontos, a busca por relacionar-se
com pessoas influentes, de certo modo,
pode causar boa impressão. Há os que se
sustentam por aliar-se a pessoas importantes e influentes. Mas qual o
resultado disso? Quando entrei para o
rádio, ouvi o diretor de jornalismo palestrando com sua
equipe e disse: “Quando alguém que deve trabalhar em equipe, sente a necessidade de aparecer
mais que os outros, esse já não trabalha
mais em equipe. Quando
um dos colegas vive às voltas com o chefe, ele está pretendendo alguma coisa de
interesse pessoal”.
Certo dia, bem antes de começar a
minha carreira de locutor, ao sair com minha caixa de isopor para vender picolé num ponto de ônibus, e ao estar
quase fechando a venda para uma senhora, chegou outro menino, ficou entre mim e
aquela pessoa e disse: “Compra o meu. O
meu picolé é melhor”. Talvez essa atitude seja aplaudida por alguns motivadores nos tempos em que se
ovaciona a ousadia como uma arma para
conquistar o que se deseja, onde o fracasso de uns, serve de trampolim para impulsionar a outros. Quem sabe esse menino saiu contando “vantagens” que teve ao conseguir
derrubar a venda do outro e, em casa, ouviu: Esse é o meu menino! É isso mesmo, filho, tem que batalhar para conseguir as coisas, se
você não fizer por si, ninguém o fará.
Para alguém vencer, outro tem que perder. Nem sempre a disputa é justa. |
Essa filosofia, do "ninguém faz nada por você", já faz parte do pensamento coletivo de uma sociedade egoísta e, mal canalizado, serve para nutrir ainda
mais esse egoísmo que caracteriza a natureza humana. Lembro-me dos meus tempos de escola. Meu pai
sempre me comprava duas canetas, duas borrachas, dois lápis e pedia para eu
levar na mochila. Eu perguntei a ele o porquê, já que eu não podia usar dois
objetos ao mesmo tempo. E ele respondeu: um você usa. Caso um colega venha
precisar, você empresta para ele.
Era um contraste, uma voz destoante no momento em que ouvíamos de muitos, que se
você não fizer por você, ninguém o fará. É lógico que não vamos esperar a boa
vontade alheia como se fosse uma obrigação, mas refiro-me ao fato de que certos
conceitos acabam formatando o caráter das pessoas, e muitos passam a agir de
maneira egoística como algo normal, praticável, justo. Matar para não morrer,
seria uma atitude justa e fortalece ainda mais o provérbio popular: "Farinha pouca, meu pirão primeiro".
O grande risco de usar o outro como degrau é o de a estrutura não suportar |
Eu fiquei muito impressionado com a atitude
daquele menino vendedor de picolé como eu, e apenas recuei; jamais agiria dessa maneira e
não quis me impor, tendo que usar as mesmas armas que ele; e esse recuo me
levou a refletir: Ora, o meu picolé era da mesma marca; compramos na mesma
fábrica. E ele sabia disso, e sabia que
eu sabia. Mas ele gritou mais. Chamou
atenção para si, fez barulho, e
conseguiu vender. Adotou uma atitude oportunista, quando disse que o picolé
dele era “melhor”.
Isso é um grande risco quando nos defrontamos
com a prova do que dizemos sobre nós mesmos. Passamos a caminhar por terreno incerto
quando pensamos que ser bom não basta. É preciso mais. É preciso mentir, colocar dúvidas; defender nossos interesses a qualquer custo, até mesmo prejudicando aos outros. Jamais eu teria desenvolvido essa reflexão e esse olhar, se tivesse usado as mesmas armas do oponente. Quando entramos numa briga, disputando o mesmo espaço, não enxergamos que as coisas podem ser diferentes, quando a generosidade é alimentada no coração. Teríamos uma sociedade mais justa e com menos diferenças. Esse exemplo vem de baixo e levamos conosco a qualquer lugar que ocupemos.
Quando precisamos usar o outro para dizer que fazemos ou somos melhores é porque já deixamos de ser o que somos. Quando deixamos de ser o que somos, jamais aceitaremos os outros como são.
Quando precisamos usar o outro para dizer que fazemos ou somos melhores é porque já deixamos de ser o que somos. Quando deixamos de ser o que somos, jamais aceitaremos os outros como são.
Realizar bem nossa atividade sem
depender de auto-promoção é uma questão de justiça e humildade. Usar quadros
comparativos, oportunamente para vender uma idéia
para, de alguma maneira, obter vantagens pessoais, é uma forma de
incompetência criativa. O fato lamentável é que sempre aprendemos a usar o outro
quando precisamos falar bem de nós
mesmos.
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