quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O EXEMPLO VEM DE BAIXO


“Quando alguém que deve trabalhar em equipe, sente a necessidade de aparecer mais que os  outros, esse já não trabalha mais em equipe”
A motivação tem muita relação com o   que  fazemos, mas é o resultado que mostra a competência que temos. No mundo competitivo, em todas as áreas, somente os que trazem os melhores resultados ou, no mínimo, aqueles esperados, dentro das possibilidades óbvias, é que conseguem firmar-se e conquistar credibilidade. Mas tudo deve ser feito dentro da decência, honestidade e generosidade. Quando trabalhamos pensando apenas em nós mesmos, poderemos sair machucados de certas disputas. Nem sempre feridas expostas, mas feridas emocionais.  
O que propagamos a nosso respeito só é
identificado pelo que fazemos

Há os que se especializam no marketing pessoal, mas não avançam mais que isso. As mudanças que conseguem realizar ou suas conquistas são rasas, superficiais. Alguns podem executar grandes construções, mas com  bases vulneráveis. É o caráter de cada um que define que material usará nessa construção ou que tipo de arma usará para suas conquistas.

Os discursos prontos, a busca por relacionar-se com  pessoas influentes, de certo modo, pode causar boa impressão. Há os que se sustentam por aliar-se a pessoas importantes e influentes. Mas qual o resultado disso?  Quando entrei para o rádio, ouvi  o  diretor de jornalismo palestrando com sua equipe e  disse: “Quando alguém que deve trabalhar em equipe, sente a necessidade de aparecer mais que os  outros, esse já não trabalha mais em equipe. Quando um dos colegas vive às voltas com o chefe, ele está pretendendo alguma coisa de interesse pessoal”.

Certo dia, bem antes de começar a minha carreira de locutor, ao sair com minha caixa de isopor para vender picolé num ponto de ônibus, e ao estar quase fechando a venda para uma senhora, chegou outro menino, ficou entre mim e aquela pessoa e disse: “Compra o meu. O meu picolé é melhor”. Talvez essa atitude seja aplaudida por alguns motivadores nos tempos em que se ovaciona a ousadia como uma arma para conquistar o que se deseja, onde o fracasso de uns, serve de trampolim para impulsionar a outros.  Quem sabe esse menino saiu contando “vantagens” que teve ao conseguir derrubar a venda do outro e, em casa, ouviu: Esse é o meu menino! É isso mesmo, filho,  tem que batalhar para conseguir as coisas, se você não fizer por si, ninguém o fará.  

Para alguém vencer, outro tem que perder.
Nem sempre a disputa é justa.


 Essa filosofia, do "ninguém faz nada por você",  já faz parte do pensamento coletivo de uma sociedade egoísta e, mal canalizado, serve para nutrir ainda mais esse egoísmo que caracteriza a  natureza humana.  Lembro-me dos meus tempos de escola. Meu pai sempre me comprava duas canetas, duas borrachas, dois lápis e pedia para eu levar na mochila. Eu perguntei a ele o porquê, já que eu não podia usar dois objetos ao mesmo tempo. E ele respondeu: um você usa. Caso um colega venha precisar, você empresta para ele.

Era um contraste, uma voz destoante  no momento em que ouvíamos de muitos, que se você não fizer por você, ninguém o fará. É lógico que não vamos esperar a boa vontade alheia como se fosse uma obrigação, mas refiro-me ao fato de que certos conceitos acabam formatando o caráter das pessoas, e muitos passam a agir de maneira egoística como algo normal, praticável, justo. Matar para não morrer, seria uma atitude justa e fortalece ainda mais o provérbio popular: "Farinha pouca, meu pirão primeiro".
O grande risco de usar o outro como
degrau
é o de a estrutura não suportar


Eu fiquei muito impressionado com a atitude daquele menino vendedor de picolé como eu,  e apenas recuei; jamais agiria dessa maneira e não quis me impor, tendo que usar as mesmas armas que ele; e esse recuo me levou a refletir: Ora, o meu picolé era da mesma marca; compramos na mesma fábrica. E ele sabia disso, e  sabia que eu sabia. Mas ele gritou mais. Chamou atenção para si, fez barulho, e conseguiu vender. Adotou uma atitude oportunista, quando disse que o picolé dele era “melhor”.

Isso é um grande risco quando nos defrontamos com a prova do que dizemos sobre nós mesmos. Passamos a caminhar por terreno incerto quando pensamos que ser bom não basta. É preciso mais. É preciso mentir, colocar dúvidas; defender nossos interesses a qualquer custo, até mesmo prejudicando aos outros.  Jamais eu teria desenvolvido essa reflexão e esse olhar,  se tivesse usado as mesmas armas do oponente. Quando entramos numa briga, disputando o mesmo espaço, não enxergamos que as coisas podem ser diferentes, quando a generosidade é alimentada no coração. Teríamos uma sociedade mais justa e com menos diferenças. Esse exemplo vem de baixo e levamos conosco a qualquer lugar que ocupemos.  

Quando precisamos usar o outro para dizer que fazemos ou somos melhores é porque já deixamos de ser o que somos. Quando deixamos de ser o que somos, jamais aceitaremos os  outros  como  são.

Realizar bem nossa atividade sem depender de auto-promoção é uma questão de justiça e humildade. Usar quadros comparativos, oportunamente para vender uma idéia para, de alguma maneira, obter vantagens pessoais, é uma forma de incompetência criativa. O fato lamentável é que sempre aprendemos a usar o outro  quando precisamos falar bem de nós mesmos. 

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