A superexposição do crime, faz com que atos isolados ganhe proporções gigantescas a ponto de tornar a sociedade refém do medo. |
Há mais de 30 anos, Leonel Brizola, o
falecido ex-governador do Rio de Janeiro defendia que há dois tipos de
violência: a provocada pela “explosão” juvenil, e aquela que vem de cima para
baixo. Brizola não aceitava a ideia de tratar os jovens como criminosos, depois
de muitos deles serem mortos por policiais. “São jovens sem amparo e jogados
à própria sorte, sem orientação e educação, que se misturam a outros” –
dizia. O ex-governador atacou a violência de cima para baixo, sobretudo a divulgada pela televisão. Para o político, é preciso
entender que há o crime organizado, e a cultura da violência no país começou a
partir da revolução de 1964. “Há grupos
criminosos que se sustentam do crime.” Á época Brizola chegou a atacar: "O Rio de Janeiro não fabrica armas, não fabrica drogas; as drogas do Rio vem de São Paulo, que vem da Bolívia". A fala de Brizola é, de fato, uma denúncia sem ressonância há muito tempo. Levanta-se suspeita de que há algo muito maior, grandes interesses por trás da falta de fiscalização e repressão no núcleo do problema, deixando transparecer que todo o trabalho de combate é apenas um bem elaborado faz de conta.
Homem é imobilizado após arrastão em praia do Rio de Janeiro |
Esses dias me surpreendi com a pergunta do meu filho: “Pai, por que os criminosos não acabam, se
a maioria das pessoas quer o bem?”
Essa pergunta me fez lembrar um pensamento que se passava em
minha cabeça quando assistia a umas cenas de crimes e guerras de tráfico
explorado pela televisão durante muitas horas, de cenas repetitivas. Parecia
que não havia outra saída; ninguém via o outro lado da cena. As câmeras focavam
a guerra do tráfico, dando a ela uma dimensão extraordinária, supervalorizada.
Olhando em volta, as pessoas iam e vinham para o trabalho; a vida do outro lado
parecia continuar em uma suposta paz. Mas as cenas de terror e
o alardear de atos criminosos, espalhavam o pavor colocando as pessoas umas contra
as outras; ninguém ousava olhar em direção do outro com medo do que podia acontecer. É quase comum que pessoas se sintam inseguras num ponto de ônibus, por exemplo, quando alguém se aproxima.
É verdade que o bem deixa de influir porque destaca-se demasiadamente o mal e os erros. Volto a citar Brizola: “O perigo da televisão é o foco. Foca uma pequena parte de areia e diz que é o deserto.”São cenas isoladas que correm o mundo inteiro. O crime organizado é um "mundo paralelo" ou um submundo, dentro de nossa sociedade e obviamente afeta diretamente a quem está ligado a seus interesses e indiretamente aos cidadãos comuns que são atingidos sem terem participação ativa ou responsabilidade sobre as ocorrências.
É verdade que o bem deixa de influir porque destaca-se demasiadamente o mal e os erros. Volto a citar Brizola: “O perigo da televisão é o foco. Foca uma pequena parte de areia e diz que é o deserto.”São cenas isoladas que correm o mundo inteiro. O crime organizado é um "mundo paralelo" ou um submundo, dentro de nossa sociedade e obviamente afeta diretamente a quem está ligado a seus interesses e indiretamente aos cidadãos comuns que são atingidos sem terem participação ativa ou responsabilidade sobre as ocorrências.
A TV aberta encerra o dia com notícias de violência |
Apesar de importante, a ação é apenas paliativa. O combate ao transporte de drogas não é o combate da produção. |
A violência não deve ser tratada apenas pela ótica das
consequências e dos traumas sociais – pois discutir o efeito pode desviar o
olhar de algo mais profundo-, mas observar os diversos fatores desencadeantes
de atos violentos e criminosos tão explorados pelos programas policiais (que
não tem outra função a não ser de fomentar a revolta de quem assiste), a crítica à justiça acusada de não cumprir seu
papel diante das novas tipificações, diferente do que se praticava no passado.
Se há novas modalidades de crimes, vale salientar e observar,
como o avanço da sociedade tem estimulado a prática cada vez mais horrenda de
crimes, estampadas nas páginas policiais. A supervalorização do crime acaba
passando a ideia de que há uma generalização pelo enquadramento que as câmeras
de televisão mostram, gerando uma sensação de pânico, tornando pessoas de bem
reféns de seus próprios medos. A espetacularização de crimes bárbaros, que
exaltam a periculosidade de um assassino, parece não chocar tanto e não ser tão
abominável, pelo aparato e a proteção policial que é dada ao criminoso com
grande escolta, um prato cheio para apresentadores de televisão sensacionalistas
que reivindicam sua exclusividade na veiculação de suas reportagens. O foco é o criminoso, não as vítimas que ele
fez, o histórico de cada uma delas; o impacto do crime sobre a família, entre
outras coisas. Não existe nenhum aconselhamento ou orientação sob o ponto de
vista comportamental no que tange à importância do papel da família na criação
dos filhos, o ensinamento de valores e o estabelecimento de limites. É a
notícia pela notícia do jeito que querem mostrar. A sobrevivência pela miséria
humana.
Certa vez um criminoso que foi preso pela polícia foi
entrevistado por um desses repórteres policiais e surpreendeu quando disse ao
jornalista: “Vocês devem me agradecer porque eu estou dando trabalho para vocês.”
Ação da polícia mostra o descontrole do Estado no trabalho real de combate ao crime. |
Parece um absurdo, mas a criminalidade, o tráfico de armas e drogas sustenta muita gente.
O crime acaba compensando para alguns, até que não sejam diretamente afetados. Não é possível que um fato repudiante pela população em geral, continue em plena atividade como uma máquina. E nós, nos tornamos apenas espectadores
reféns, manipulados pelo que a televisão
quer mostrar em seus noticiários, desviando o olhar de outras necessidades
ignorando o contexto que explica determinadas situações, sem que haja trabalho
conjunto para o combate ao crime e à violência em sua causa mais profunda.
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