O cavalo branco
Há muitos que provocam uma
oportunidade, porém, quando ela se abre, nem sempre cumprem
os requisitos para usufruí-la plenamente.
"A
oportunidade é um cavalo branco que passa somente uma vez na vida. Se ele
passar e você não montá-lo você não terá mais chance”.
Há quem considere o fator "sorte" para a realização na vida. |
Assim falava seu Vicente. Era um
homem idoso, alegre, espontâneo, tinha algo de misterioso nas palavras, como
essa que transcrevi. Morava no mesmo bairro que minha família. Tinha uma risada
forte, dava para perceber sua presença ao longe. Gostava de contar causos e
anedotas a quem parava para ouvi-lo.
Fui crescendo e, de vez em quando, parecia ouvir a voz do seu Vicente na minha mente. E começava a pensar e refletir sobre aquela frase. Eu era ainda um menino, e achava uma crueldade
a tal “oportunidade” passar uma única
vez na vida. Não me conformava com essa idéia. Oportunidade é algo abstrato,
mas se materializa quando estamos aptos para recebê-la. Aptos ou não para aceitá-la,
ela ocorre quando a “provocamos” também.
Há
muitos que vivem provocando oportunidade, porém quando ela se abre, nem sempre
cumprem os requisitos para usufruí-la plenamente. Mesmo havendo possibilidades
de novas oportunidades, aquela que deixamos passar não é recuperável. Cada
oportunidade é única e insubstituível. Se não estivermos aptos para usufruí-la,
ela passa a outros.
Mas a oportunidade, ao contrário do
pensamento do “filósofo popular” não é algo que surge misteriosamente como um
cavalo branco que passa esperando que alguém suba em seus lombos e cavalgue
como se esse fosse o ápice de uma realização.
O “montar” o cavalo poderia ser apenas a primeira ação, diante de uma oportunidade pois para a cavalgada
segura, é preciso ter preparados todos os apetrechos e equipamentos para “guiar”
essa oportunidade pela estrada afora. Sem essas medidas de segurança, a
oportunidade pode se perder pelo caminho, “chacoalhada” pelo trote.
Na estrada da vida também deparamos com trechos perigosos |
Esses apetrechos e
equipamentos, seriam as condições que criamos, sejam materiais ou
imateriais. O “trote” da
cavalgada representa os embates, os desafios, e
os confrontos no decurso da jornada. É preciso estar consciente sobre a maneira, o
tempo e a hora de utilizar esses mecanismos de segurança. É a lucidez sobre os
nossos atos, os propósitos e os planos que “desenhamos”, que nos mostrarão o
momento certo de agir com mais intrepidez e energia para nos mantermos no
caminho da conquista sem desanimar. Não são as ferramentas o mais importante: é a
maneira de manuseá-las que faz a diferença. Há muitos que perdem grandes
oportunidades, mesmo com todos os elementos favoráveis e com todo suporte para
seu desenvolvimento.
Ted Williams - mendigo que ficou famoso pela "Voz de Ouro" e ganhou emprego numa emissora de rádio americana. Alcoólatra, teve problemas de relacionamento no trabalho. |
De certo modo, as oportunidades estão
sempre diante de nós. O preparo que pensamos ter, é que determina
nossas ações de ousadia para encará-las. Isso não se refere apenas ao preparo
didático acadêmico ou por teorias, mas também à disposição interior do
indivíduo diante de suas motivações.
A capacidade de lidar com as
oportunidades é, em muitos casos, amadurecida diante da percepção e análise
profunda do indivíduo sobre suas potencialidades. Há muitos que inicialmente
não se achavam capazes de exercer alguma função ou assumir responsabilidades,
mas com a aceitação do desafio e com
olhar em suas limitações com o objetivo de buscar alternativas tornaram-se
aptos a superar dificuldades.
É preciso ficar bem definido que a
atividade precisa testemunhar de quem a exerce. É o trabalho que torna
alguém reconhecido e, consequentemente,
requisitado a realizar seus serviços. Quando alguém chega a esse nível, é certo
que as oportunidades se abrem ainda mais. Novos horizontes se despontam. É a
maneira de conduzir e lidar com as experiências, levando-se em conta as
exigências e, por outro lado, com a consciência
de até aonde se pode avançar, bem como com atenção voltada às
reformulações e atualizações, tornará o indivíduo apto a permanecer em
movimento constante, construindo, inovando, crescendo.
Não seria inteligente olhar a
oportunidade como algo que surge aleatoriamente. A melhor oportunidade é aquela
que construímos, de acordo com nossas aptidões, auto-confiança e determinação
sobre o que fazemos, não somente as oportunidades que nos propõem.
Algumas oportunidades propostas podem
confrontar-se com juízo de valor, princípios morais ou religiosos, ou à alguma
questão de foro íntimo, relacionada à formação de caráter, às crenças, etc. As
realizações em todas as esferas só se concretizarão em sua essência, se elas
estiverem em sintonia com a consciência individual desses valores. Para muitos,
melhor que a realização profissional ou financeira é a paz interior, com a
certeza do cumprimento de seus deveres sobre o que
julga mais importante. Diante de
uma oportunidade é importante considerar não apenas o que se vai ganhar, mas de
que maneira esses “ganhos” poderão evoluir para perdas do que já se conquistou em várias
áreas da vida. Diante de oportunidades, é preciso tomar decisões. E não há
decisão sem perda.
A maneira como subimos a escada da vida, pode determinar a nossa permanência no topo. O topo nem sempre é o lugar que alcançamos mas a atividade que praticamos. |
É muito comum ter que
abrir mão de alguma coisa para obter outra. É preciso considerar se essas perdas
são recuperáveis ou como sobreviver a elas caso não haja uma maneira de repará-las.
O indivíduo arrisca-se a entrar em choque consigo mesmo quando avança em
determinado terreno, desprezando seus valores. A longo prazo, isso pode custar-lhe a paz de espírito, o que torna-se
um entrave para a felicidade e uma vida de realização plena. A plenitude da
realização não está na dimensão ou no valor da conquista, mas em sua essência
imaterial. É aquilo que resta em nós quando perdemos de vista o que é
concreto. A real prosperidade na vida, a partir de uma oportunidade, não se dissocia desses valores. Aliás, os
valores imateriais são aqueles os quais ninguém poderá roubar-nos. É aquele que
não se perde, mas se renova na manutenção dos princípios, na linha da
boa fama, da decência, da solidariedade, da honestidade e da honra.
Prosperidade não se baseia na materialização de um sonho, apenas. O material é
somente a prova de uma conquista, onde não terá que se provar a maneira como foi
conquistado.
A luta entre a
carne e o espírito é o maior desafio que o homem tem que enfrentar. Porque é
uma luta dele contra ele mesmo em sua introspecção. Não há como substituir. São as nossas intenções que trabalham a nosso favor ou contra nós. São as intenções que nos revelam, de fato, o que somos, de acordo com os métodos que escolhemos.
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