Ele
estacionou o carro à beira da calçada do outro lado da rua. Era cedo. As portas
das lojas fechadas. As ruas vazias, sem o movimento costumeiro do início dos
trabalhos, daqueles que vem e vão. Mas ele olhou para um monte de panos velhos,
cobertores e papelões debaixo da marquise de uma loja comercial.
Ele desceu do
carro, atravessou a rua, olhando para o que parecia um monte de lixo na
calçada, mas pelo jeito decidido como caminhava em direção ao local, demonstrava saber o que havia lá. Um homem estava deitado, coberto por
aqueles panos numa manhã fria de inverno. O maltrapilho levantou os olhos quando
ele se aproximou. Não estava acostumado com a presença de alguém perto dele,
muito menos alguém que chegasse, olhasse para ele e demonstrasse algum sinal de amizade
ou um sorriso. Para este mendigo, era comum as pessoas se desviarem pela pressa do dia a dia, sem sequer olhar em sua direção. Mesmo estando ali, parecia
invisível aos olhos dos que naturalmente passavam por ele; cada qual com seus dramas, suas preocupações, seus desafios. Mas é exatamente este o motivo justificado e, até relativamente compreensível sob o ponto de vista prático.
Os problemas que passamos a enfrentar na vida, funcionam com "armadilhas" que nos prendem, e passamos a vida distraídos ou absortos tentando desatar esses "nós" que nos impedem a caminhada. Focamos o nosso olhar para esses "nós", e pouco nos importamos com o que ocorre à nossa volta. "Não temos tempo".
Os problemas que passamos a enfrentar na vida, funcionam com "armadilhas" que nos prendem, e passamos a vida distraídos ou absortos tentando desatar esses "nós" que nos impedem a caminhada. Focamos o nosso olhar para esses "nós", e pouco nos importamos com o que ocorre à nossa volta. "Não temos tempo".
Encontra o sofrimento aquele que busca apenas a si mesmo. |
O
homem acabava de atravessar a rua e chegar perto do sem teto. Abaixou-se ao chão, e olhando nos olhos,
disse-lhe: O senhor quer comer alguma coisa? quer tomar um banho?
Foram duas perguntas que mexeram com aquele homem. Estava diante de alguém que mostrou-se preocupado com ele. Primeiro porque certamente tinha fome; depois, por estar sujo, com roupas que precisavam ser trocadas. As perguntas foram feitas exatamente diante da necessidade urgente daquele pobre, até então, ignorado.
Mas se hoje, alguém que vê sua necessidade urgente lhe fizesse a mesma pergunta, qual seria a sua resposta?
Vivemos
numa sociedade individualista, onde amor e caridade parecem algo de outro
mundo. Alguns rejeitam ajuda, exatamente porque é comum aprendermos que, "quando
alguém nos dá com uma mão, nos tira com a outra". Aprendemos, inclusive, versos e provérbios que nos ensinam. Aprendemos
o que não deveríamos: “quando a esmola é
demais até o santo duvida”, ou: “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Aprendemos
a nos fechar, e até tentam nos convencer, que se passamos por algum problema, ninguém tem
nada a ver com isso!
É isso que nossa sociedade nos ensina e acabamos nos isolando na solidão, mesmo em meio à multidão, como se estivéssemos irremediavelmente perdidos. Passamos a ser duros de coração e "calejamos" nossos sentimentos com a indiferença, a ponto de não conseguirmos “sentir” a dor do outro, porque, se por um lado ninguém pode fazer nada por mim, obviamente não me interessaria em fazer nada por alguém.
É isso que nossa sociedade nos ensina e acabamos nos isolando na solidão, mesmo em meio à multidão, como se estivéssemos irremediavelmente perdidos. Passamos a ser duros de coração e "calejamos" nossos sentimentos com a indiferença, a ponto de não conseguirmos “sentir” a dor do outro, porque, se por um lado ninguém pode fazer nada por mim, obviamente não me interessaria em fazer nada por alguém.
Tornamo-nos frios em nossas relações. Passamos a não confiar nos outros, porque aprendemos que precisamos nos proteger. Olhamos para o nosso próximo como nosso inimigo. Somos
educados assim, por essa sociedade, mesmo em silêncio - ainda que o discurso seja o de unidade e fraternidade. São as ações que marcam. As ações ao nosso redor é que transformam a nossa maneira de pensar - muito mais do que o pensamento nos ensina como agir. Passamos a maior parte do tempo reagindo. Nos armamos contra inimigos que nos fazem construir na mente. Reagimos mais. Agimos menos. Só o sentido inverso, poderá ser capaz de mudar
o que vivenciamos hoje.
Esses atos viciosos podem gerar até interferência considerável
na aceitação da graça de Cristo. Aprendemos que precisamos fazer por merecer em
nossas questões humanas e, o que conquistamos, atribuímos ao nosso merecimento
e, muito pouco, desenvolvemos o espírito de gratidão.
Só um coração generoso é capaz de sentir a dor do outro. |
Não
aprendemos muito sobre generosidade. E quando um coração generoso se abre para nós,
sentimo-nos sem graça diante de uma ação do bem a nosso favor. Não sabemos como aceitar algo que nos é oferecido gratuitamente.
Aprendemos a julgar aos outros, como a nós mesmos. Mas dificilmente podemos acreditar na real sinceridade de um coração generoso, se nunca praticamos um ato generoso. Se somos aqueles que se desviam de um andarilho que se dirige a nós, certamente teremos dificuldade em aceitar que alguém se aproxime de nós perguntando: Você quer comer alguma coisa? Quer tomar um banho? – como perguntou aquele homem ao medigo deitado enrolado em panos sob uma marquise.
Mas
essa mesma pergunta ecoa até hoje. Jesus ensinou com suas ações. Quando Ele abordava alguém ou quando era abordado, ali se
processava a salvação. Ele se preocupa em perguntar: “O que você quer que eu lhe faça?”
E,
se hoje, alguém lhe fizer esta pergunta, o que você responderá?
E
você, seria capaz de perguntar isso alguém?
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