Quando vejo campanhas na televisão de gente envolvida pelo
bem de outras pessoas, emociono-me ao perceber de que maneira um meio de
comunicação pode ser usado. Não para ajudar a empresa a se sustentar para que
continue fazendo a mesma coisa, mas como uma ponte para ligar os que podem
ajudar, àqueles que necessitam. Necessidades físicas, não imaginárias, que
muitas vezes são sugestionadas por argumentos emocionados que provocam
sensações diversas. Esses dias ouvi um pastor na televisão quase chorar pedindo
oferta especial para manter seu programa. O argumento era que aquela era uma
obra de Deus e não podia parar.
Vivenciei uma
experiência que nunca esqueci. Em meu início de carreira no rádio trabalhei
numa emissora mista, que também alocava horários de programa. Certa vez um
pastor estava no ar com seu programa e chegou uma pessoa na rádio para fazer um
apelo. O homem estava desempregado e precisava de cesta básica. Ouvi a
resposta: “Aqui eu não posso fazer pedido para as pessoas no ar. Aqui eu só
prego o Evangelho.” Esse pastor era
um dos tantos que pediam ofertas no ar para manter seu programa.
Diante disso, imaginei que ele faria alguma coisa pelo homem
pessoalmente, mas nada foi feito.
Tão importante
quanto você, é o seu próximo. Isto ficou
bem claro quando um novo mandamento foi dado por Deus, que resume todas as regras
de convivência no mundo: o amor a Deus e ao próximo. Quando avançou nessa
questão, Deus pediu para que cada um amasse ao próximo quanto a si mesmo
revelando a igualdade do amor. O amor a todos nivela. Se dizemos que amamos a
Deus, a ponto de fazermos algo para Ele, em nome dEle, para uma instituição ou
organização que acreditamos pertencer a Ele, mas retemos a mão em ajudar ao
semelhante necessitado, nossa oferta a Deus não é aceita. Se devolvemos dízimos
e ofertas para ajudar a obra de Deus e damos as costas ao nosso irmão, o nosso
próximo, nossa aparente generosidade para com Deus é interesseira. Se os instrumentos que temos em mãos, que
podem ser usados para o benefício social e físico do semelhante, a exemplo do
que Cristo fez em sua missão na Terra, e usamos todos os recursos para um
crescimento corporativo, seremos como servos infiéis.
O que você
faz a você, em seu benefício, a roupa que veste, a comida que come daria ao
próximo anônimo, desconhecido, como a si mesmo? Ou faria o seu esforço para
doar a órgãos ou instituições porque são de “credibilidade” que poderiam
ovacionar seu nome em gratidão nominal?
“Ai de vós,
doutores da Lei e fariseus, hipócritas! Porque dais o dízimo da hortelã, do
endro e do cominho, mas tendes descuidado dos preceitos mais importantes da
Lei: a justiça, a misericórdia e a fé. Deveis, sim, praticar estes preceitos,
sem omitir aqueles!” – Mateus 23:23.
Essa mensagem não é reflexiva apenas
aos líderes ou a alguém com poder de comandar pessoas e operar o amor, a
justiça e a misericórdia para com os outros. No plano do amor de Deus, todos
estão nivelados: para o amor, não há grandes ou pequenos, líderes ou
comandados. Para Deus não importa o que você é ou o que você faz. Para Deus
importa se você ama a Ele, e ao próximo como a si mesmo.
“Mesmo
que eu dê aos necessitados tudo o que possuo e entregue o meu próprio corpo
para ser queimado, se não tiver amor, todas essas ações não me trarão qualquer
benefício real”. - I Coríntios 13:3.
Se você doa porque a consciência pesa, você precisa mudar a consciência. Se doa porque diz que Deus lhe abençoou e que por isso deve ajudar ao outro, você precisa mudar o pensamento. Se você doa por algum motivo que o obriga a dar satisfação de seus motivos, reveja seus motivos. O amor é vazio de todo e qualquer pensamento egoísta.
Quando vejo instituições religiosas justificando seus pedidos milionários para sua sustentação, por manter obras sociais, lembro-me do caso dos fariseus diante da oferta da viúva pobre. As obras sociais institucionais são um meio de justificar diante da opinião pública seus feitos a ponto de merecer as ofertas e contribuições que são apenas uma parte ínfima do que arrecadam. Mas nenhuma delas será capaz de vender tudo e distribuir aos pobres. A verdade é uma só: o mandamento de amar a Deus e ao próximo, opera-se de pessoa para pessoa. Este é o segredo.
No final das contas, Deus não lhe
perguntará quanto de dízimo e oferta doou para sua obra; quantas pessoas você “converteu”
a Ele; quantas igrejas você ajudou a construir. Essas práticas dependem de
sua disposição pessoal e de seus
motivos, por suas crenças e pactos que fez. Deus lhe perguntará o quanto você
amou o seu próximo: aquele que se assenta ao seu lado na igreja que você ajudou
a construir; aquele que bateu à sua porta em momento de dificuldade pedindo
socorro.
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