quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A CULPA É SUA!

Há muitos que aprendem a ser duros demais consigo mesmo pela cultura, por ensinamentos que formam o caráter que com o tempo passam a ser um grande “inimigo” a ser enfrentado. Alguns mudam de lado por uma questão de sobrevivência. Outros padecem por não se curvarem diante daquilo que não acreditam. Mas são poucos os que se libertam dessas algemas de circunstâncias.  Trazemos sobre nossos ombros uma carga de culpabilidade por decisões mal tomadas, mesmo assumindo o risco calculado. Quem foi atingido por uma “bala perdida”, diz-se que estava no lugar errado, na hora errada. “A vítima do assalto morreu porque reagiu”. Aos poucos vamos construindo a ideia de que nesse mundo todos são santos, nós é que somos os demônios. Se o mal está acontecendo do lado de fora, você é o culpado;   quem atirou é que está certo, o atingido é que provocou.
Se  quer viver certo num mundo errado, a culpa é sua. Se não consegue sucesso pela dignidade, a culpa é sua. Se busca qualidade e deseja viver acima da média e não consegue espaço, “a culpa é sua”. Se  confiou e se frustrou, é porque não confiou direito. A culpa é sua. Se você pediu e não recebeu, é porque não teve fé suficiente. A culpa é sua. É sempre uma desculpa, uma explicação.  É um mundo em que para sobreviver, é preciso dançar conforme a música, e há tantos que nem aprenderam a dançar! De quem é a culpa?
Há muitos que se sentem o tempo inteiro no lugar errado, na hora errada. As “balas perdidas” sempre os alcançam. Se não abrem mão de suas convicções para não juntar-se aos que agem em desconformidade com seus princípios, dispõe-se a pagar o preço da irrealização sob outro aspecto da vida. Mas há os que se submetem à ideia do “matar para não morrer.” Se assim todos fazem,  matar passa a ser um legítimo meio de sobrevivência. “Corromper” e ser “corrompido” é prática comum na escalada social. Aos poucos, os valores morais são substituídos por uma necessidade “inventada”, da qual todos tornam-se dependentes.

Quer se dar bem? Tem que ser como um deles. Não se importe com os outros. Não dá para jogar limpo num terreno enlameado. Está sofrendo porque não é aceito? A culpa é sua!
É assim mesmo? É isso que precisamos fazer?
Até que ponto a mediocridade e a imbecilidade terá espaço? Ao nivelarmos a sociedade por baixo, pelos mau exemplos, pela falta de opção ou pela barreira criada para as opções não se revelarem,  passamos a admitir e aceitar a construção de um outro modelo de sociedade, uma outra visão de mundo.
“O mundo não gira em torno de você” – dizem os adaptados ao mundo de maneira crítica. Na realidade, pensar em você mesmo é adequar-se ao “mundo” para obter o que se impõe como o único meio de sobrevivência. A ação contrária torna-se um “peso” quando deparar-se com essa realidade interfere no ideal de vida, a ponto de levar o indivíduo a questionar-se: “Será que todo mundo está certo e só eu estou errado?”
O “bom ânimo” é sempre desconstruído, recebe um “banho de água fria” quando o ideal de vida esbarra-se numa realidade da qual não participamos. É como se sentir um peixe fora d’água. Nem sempre esse comportamento pode ser interpretado como arrogância ou orgulho, mas pode explicar o caráter do indivíduo. Nesse contexto, o viver desajustado provoca sentimentos de incapacidade.

Aquele que escolheu viver segundo a ordem da honestidade, justiça, honra, amor ao próximo, e sobre esses pilares construiu seu caráter, dificilmente se sentirá ajustado onde para sobreviver é preciso se metamorfosear. Dificilmente se manterá calado, quando discursos e práticas contrariarem os princípios que defende. Por isso, dificilmente será aceito. “Morreu porque quis.” A culpa é sua. Será? 

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