Há um pensamento muito usado, na
maioria dos casos, como forma de apelo: “É dando que se recebe.” Se observarmos
bem, refletindo sobre a frase,
vamos considerar que não se trata
de um apelo, nem uma condição, mas de um fenômeno. Essa crença
afirmativa é uma questão que tem mais a ver com o retorno do exercício
de doar, ou seja, a prática, que não tem ligação com questões
extrafísicas. Uma passagem de Provérbios
de Salomão é categórica ao afirmar: “Aquele que trata da semente, comerá do
seu fruto.” – isso não quer dizer que o agente que cuidou da semente
comerá do seu fruto. Há muitos que colhem dos frutos que outros cultivam. O que
se fala, o agente ativo do fato, nesse caso, não é necessariamente aquele que trata
da semente. Fala-se da semente. Ou seja. A semente bem cuidada produz frutos.
Há muitas ocorrências que são verificadas na esfera física, material, sem
interferência da fé ou de algo espiritual do indivíduo. É preciso entender que
para cada ação existe uma reação correspondente.
As religiões procuram espiritualizar a prosperidade, mas quando se diz
que “é dando que se recebe” – se diz sobre um fato. Utilizar essa frase
como um instrumento de manipulação para fazer com que alguém doe apenas por
motivos interesseiros, pode estar furtando do indivíduo o poder de observação.
Mesmo assim, sendo por meios egoístas e interesseiros, observa-se que há muitos
que prosperam na área em que escolheu como alvo a ser atingido, assim como o
que alcançam a prosperidade com a percepção da essência dessa afirmativa. Ou
seja: a lei do retorno é real, e ocorre como consequência de ações práticas não
de sentimentos imateriais.
A chuva depende de elementos
naturais como o vapor dágua que sobe e se resfria a uma determinada altura da
atmosfera. Para que a água jorre da terra, é preciso que o solo seja escavado.
Essa é a ação, que pode corresponder a uma reação com base em evidências reais.
A crença com base nessa evidência é que faz o indivíduo escavar. A fé trabalha
numa outra dimensão, totalmente fora do controle humano.
A esfera física e humana, no
contexto da previsibilidade é isenta de fé. O indivíduo não precisa acreditar
que uma semente prosperará, se a previsão é de que naturalmente isso ocorra.
Tendo fé ou não, o indivíduo não pode interferir nas tendências naturais das coisas.
A sua parte é prática. É fazer e esperar. Mas não é ele que faz a semente
brotar. A força ativa que arrebenta a semente, independe de sua vontade, mesmo
assim, está no campo da presivibilidade.
O exercício da fé ganha espaço
quando as condições ativas do ser humano não são favoráveis a suas
expectativas. É quando ele necessita demasiadamente de algo que não depende
apenas de seus esforços pessoais, até mesmo de seu conhecimento. A ação da fé
não depende da ação do indivíduo e a ocorrência é verificada no momento em que
ele desarma seus sentidos e entrega-se completamente. É nesse nível que coisas
miraculosas e inexplicáveis podem acontecer.
Toda prosperidade meramente
física, ocorre de igual modo na esfera material, sem interferência de fatores
extrafísicos. As expectativas criadas, apesar de ser imaterial por tratar-se de
“sentimentos”
e sensações, elas são fruto de algo possível. A fé trabalha no campo das
impossibilidades. É por isso que se sustenta a ideia de que onde há fé, não há impossíveis. O exercício da fé depende,
sobretudo, da necessidade do ser humano de alcançar o que para ele, por seus
próprios recursos não alcançaria. Há um mistério por trás da fé, que não se
explica de maneira plausível por nossas referências, com base em nossas experiências
costumeiras. São episódios que fogem ao controle e ao domínio do ser humano,
apesar de sua participação ativa como agente por onde a ação da fé se manifesta
como um conduto.
A prosperidade, portanto, não
depende necessariamente de fé; ela é fruto de evidências, de planejamento, de
ação física e resultados físicos. Não se pode aliar prosperidade material com evolução
espiritual e não serve, necessariamente, como referência sobre o grau de
espiritualidade do ser humano, mas com o seu grau de entendimento e
desprendimento, unindo aptidões e competências, que apesar de estar na esfera
imaterial do talento, dons e vocação, são elementos desencadeantes das ações.
Sem a prática da atividade, não se produz, nem há compartilhamento.
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