Ele era um jovem muito sonhador. Queria trabalhar,
estudar, conseguir futuramente um bom emprego e ajudar a família. Ele queria
construir um futuro melhor, diferentemente da realidade dura que enfrentava
seus pais.
O jovem, foi criado sob princípios religiosos e, seus
pais, deixaram escapar grandes oportunidades, porque acreditavam que religião e
trabalho tinham que estar em harmonia. Para eles, seria chocante o fato de
passar por cima de seus princípios só por causa de um bom salário ou uma boa
colocação no mercado. Dinheiro não era tudo para eles. Uma consciência
tranquila, sim.
Quando estamos decididos, dificilmente pensamos duas vezes no momento da prova. |
Foi sob esse sistema que o jovem foi educado. Até que
seu tio, que trabalhava em uma grande empresa, conseguiu um emprego de office
boy para ele. O jovem, ainda no período de experiência foi chamado na sala da chefia. O chefe pediu à ele que fosse no bar da esquina comprar um maço de
cigarros. Diante do chefe, ele demonstrou preocupação, sem expressar
imediatamente alguma palavra. Ficou chocado com o pedido e sem saber o que
fazer naquele momento. O chefe olhava firme para ele, como que esperando a reação natural de pegar o dinheiro e dirigir-se ao referido bar para comprar-lhe o cigarro. Mas, sem graça, olhava para
o chefe como querendo dizer alguma coisa. Como fazer isso? - pensou ele. Seus pais nunca fumaram. Ele,
criado nesse ambiente, como um jovem religioso, aprendeu que o mal que não queria
para si, também não fizesse ao outro.
Por outro lado, ele pensava que poderia colocar seu emprego em
risco, se não fizesse aquele favor para seu chefe. Mas ele decidiu fazer
o que seu coração dizia. Ao mesmo tempo, pensou que se fosse penalizado pelo
que achava certo, pelo menos sua consciência estaria tranquila. E foi assim que
disse ao chefe, que se ele quisesse um outro favor, poderia fazer, porque
comprar cigarro não achava certo. E explicou seus motivos. O chefe olhava para
ele friamente, ouvindo as explicações - e ele continuava: dizia que seus pais
nunca fumaram e que também nunca fumou porque o cigarro fazia mal à saúde.
Finalmente disse que o mal que não deseja para sí, não deseja para o outro.
O dinheiro do cigarro que estava na mão do chefe, que
antes, estendia em sua direção, foi colocado no bolso da camisa novamente.
Depois de dizer essas palavras o jovem se sentiu aliviado.
O chefe disse ao jovem, que nunca ninguém havia negado
esse pedido a ele. Todos que passavam pelo seu departamento, nunca demonstraram
esse tipo de preocupação, com uma coisa que considerava tão simples. E
acrescentou: - a partir de hoje, você terá minha grande consideração e farei de
tudo para que você seja bem sucedido aqui na empresa. Porque se você valoriza
as pequenas coisas e se preocupa com a sua consciência, você está aprendendo a
ser um ser humano melhor.
Na verdade não foi o fato de o jovem ter sido comparado
de maneira superlativa aos demais “compradores de cigarro”, que o tornou
melhor que os outros. Aliás, cada ser humano vive de acordo com sua realidade e
com seu aprendizado e, muitos, aos poucos, passam a entender com suas experiências
de vida. Outros, continuam achando tudo muito normal, assim como o exemplo que
o chefe deu àquele jovem. Mas o ponto forte que definiu o caráter daquele
principiante, foi o de ter mantido firme sua posição e consciência diante de
uma “prova” , que pensava ele poder lhe custar a primeira oportunidade de
emprego.
Em outras situações, as coisas não são diferentes. As
atitudes que tomamos, é que de fato, expressam o que defendemos, o que
aprendemos e o que seguimos. O que poderia mudar, se levarmos em conta o
pensamento prático e superficial? Tudo poderia continuar como estava. O chefe não deixou de fumar por causa disso,
nem o jovem sofreria de maneira direta algum efeito se tentasse apaziguar a
consciência com o pensamento de que não estaria induzindo ninguém ao vício,
pelo contrário, estaria fazendo um favor a alguém, ajudando-o a alcançar a
coisa desejada.
Os caminhos estão diante de nós Eles não nos fazem piores ou melhores, mas podem revelar o que buscamos. |
A verdade, é que se quisermos, conseguiremos argumentos
para massagear a consciência e, isso, repetidas vezes, acaba tornando-se comum.
Sob variados pontos de vista, temos variados argumentos e possibilidades de nos
mantermos, de algum modo, em “paz” com a
nossa consciência. É nesse ponto, que
começamos a ensaiar com o nosso “eu interior” um discurso conveniente, que
muitas vezes tornam-se até convincentes e conseguimos encontrar quem nos dê razão.
Na vida sempre estamos diante de situações assim.
Precisamos escolher entre uma consciência tranquila ou aceitar fazer o que
imediatamente pode ser uma promessa de oportunidades que sonhamos na vida. De
fato, o que ocorreu a esse jovem, não é comum. O chefe poderia ter se
endurecido e não ter reconhecido a questão espiritual decisiva por trás da
atitude daquele jovem e não deixaria de ter razão, sob seu ponto de vista e
realidade de vida.
Mas nem todos tem a sensibilidade de entender e respeitar o outro
em suas crenças ou modo de agir, diante de coisas que parecem simples e comum a
todos. Mas, mesmo tendo que pagar um preço, talvez, o melhor mesmo é a decisão
por uma consciência tranquila e ter paz consigo mesmo.
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