Ela trabalhava
fora. Saía cedo de casa, ainda de
madrugada, para chegar a tempo no trabalho. Enfrentava ônibus e trens lotados. Tinha
dois filhos. O mais velho, de 13 anos estudava pela manhã e chegava em casa no
início da tarde. O mais novo, ficava na creche-escola em período integral até a
chegada da mãe. O pai trabalhava nas proximidades, numa banca de frutas e, o
filho, fazia-lhe companhia durante o restante
da tarde. Mas, naquele dia, o filho chegou atrasado, diferentemente dos outros
dias, como de costume, mas com um belo e reluzente relógio no pulso. Com muita
alegria, levantou o braço, aproximou o pulso do rosto, como que chamando a atenção para aquele objeto de valor.
O pai, logo tratou de saber como havia conseguido aquele aquele relógio.
A educação que o
menino recebia dos pais, aparentemente o instruia sobre questões morais, valores,
respeito ao próximo, honestidade. O menino ficou meio sem jeito de dizer, mas
falou que ganhou de uma pessoa na escola, sem dizer quem havia lhe presenteado.
Mesmo sabendo que o filho era um bom menino, e confiante na educação que lhe dava,
o pai procurou tirar a história a limpo. Disse para
o filho contar a história direito, que só queria ajudá-lo e que confiasse nele.
Ao chegar em casa à noite, conversou com a esposa sobre o ocorrido.
O " ralhar" precisa ter propósito educativo, não uma maneira de descarregar raiva. |
Ela concordou que
o caso fosse apurado, mas deveria fazer isso com muito carinho e amor, pois
tratava-se de um assunto delicado e poderia causar inimizade do filho. Poderia
deixar o menino constrangido, revoltado, ou até inseguro, se ele demonstrasse desconfiança para
com o filho. E foi assim que, decidido, o pai disse ao filho que iria à escola com ele no dia seguinte e que gostaria
de ser apresentado à pessoa que o presenteou, porque queria, de igual modo, em sinal
de agradecimento, presenteá-la também.
O pai, então, preparou uma cesta de frutas frescas das quais vendia
em sua banca, e levou com ele. Ao chegar
à escola, o menino apontou para uma senhora, que era conhecida como a “tia
da limpeza”, dizendo ter sido ela que o presenteou com aquele relógio. Os
dois se aproximaram daquela mulher. O pai do menino se dirigiu a ela
perguntando se ela havia presenteado seu filho com aquele relógio. A mulher,
com os olhos lacrimejantes disse ao pai daquele menino, que seu filho era um
menino de ouro. E contou a história. Foi na hora do intervalo, na volta para a sala
de aula: um colega havia se ferido numa brincadeira e sofreu um corte no braço
e, ao ir para o banheiro lavar-se, escorregou no chão molhado e caiu. O menino
o encontrou e correu para avisar e
chamar o socorro e não sossegou enquanto não recebeu a notícia de que o amigo
estava bem. Depois disso, ainda ajudou a ”tia da limpeza” a limpar o
local. Emocionada, ela se lembrou que seu filho também se acidentou certa vez,
ficou gravemente ferido em um acidente de trânsito e, mesmo diante de tanta
gente passando pelo local, ninguém o socorreu. Ele não tinha nenhum ferimento
aparente e ela lembra que, por isso talvez, não tenha sido socorrido. Mas ela
presenteou aquele menino, com um relógio que pertencia ao filho dela.
Essa história do
menino, que levou o pai a desconfiar do objeto que estava com seu filho, levou à
revelação de uma outra história. O menino foi elogiado por sua presteza e
iniciativa em ajudar ao próximo. Mas, a maneira como o pai agiu diante desse
episódio, demonstrou preocupação e cuidado com o filho. Esse pai, acabou
descobrindo as atitudes positivas do menino longe de seus olhos. A preocupação
em acompanhar cada ação, cada conquista e cada reação dos filhos, pode não
significar “controle” ou constrangimento,
como muitos são tentados a pensar, por uma mentalidade moderna de educar sob o
argumento de que o importante é assumir o que se faz. Lembro-me ainda
nos anos 80 de um comercial de rádio, que anunciava shampoo, creme rinse e
desodorante de uma marca que não se vê mais no mercado. Em uma das peças, o
rapaz chegava tarde em casa, e levava aquele sermão do pai. Noutra peça, da
moça que dormiu na casa do namorado.
Longe dos "portões" de casa, a educação recebida também se revela. |
A mensagem do
comercial era de que o shampoo, o creme rinse e o desodorante daquela marca era
usado “ por uma geração que assume o que faz”. Nesse caso, “saber o que faz”,
sugeria quebrar o modelo da educação que
os pais davam. Ou seja: não podia impedir aos filhos, de fazerem o que
desejavam fazer, bastando apenas “assumir seus atos”.
Hoje em dia, diferentemente do passado, em que normalmente os pais inquiriam respostas, se preocupavam em saber o que os filhos faziam, onde e com quem estavam, existe um mercado tecnológico para ajudar os pais a monitorarem os filhos, sem dar a eles a chance do diálogo. Dispositivos são colocados nos computadores para "vigiar" em que sites e comunidades seus filhos estão acessando, até tornar possível saber em que teclas seus filhos digitam. Cada vez mais, isso revela o distanciamento presencial dos pais e, com os recursos tecnológicos que oferecem o monitoramento passam a viver uma falsa sensação de estar cumprindo com seu papel. Mas na verdade, o monitoramento só revelará o que os filhos acessam, não os motivos que os levam a buscar no mundo virtual o que não conseguem obter dentro da realidade em que vivem. O monitoramento constata apenas um fato, mas não resolve seus motivos.
Hoje em dia, diferentemente do passado, em que normalmente os pais inquiriam respostas, se preocupavam em saber o que os filhos faziam, onde e com quem estavam, existe um mercado tecnológico para ajudar os pais a monitorarem os filhos, sem dar a eles a chance do diálogo. Dispositivos são colocados nos computadores para "vigiar" em que sites e comunidades seus filhos estão acessando, até tornar possível saber em que teclas seus filhos digitam. Cada vez mais, isso revela o distanciamento presencial dos pais e, com os recursos tecnológicos que oferecem o monitoramento passam a viver uma falsa sensação de estar cumprindo com seu papel. Mas na verdade, o monitoramento só revelará o que os filhos acessam, não os motivos que os levam a buscar no mundo virtual o que não conseguem obter dentro da realidade em que vivem. O monitoramento constata apenas um fato, mas não resolve seus motivos.
No caso da "geração que assume o que faz" em muitos casos,
quando se chega a assumir, mesmo sob aplausos pelo reconhecimento de
responsabilidade, esse “assumir” pode ser o extremo, onde nem sempre se recupera
o que se perdeu. Assumir uma atitude, mesmo pagando por suas consequências é um
ato egoísta, pois nem sempre o lado prejudicado é ressarcido; o que foi destruído,
nem sempre pode ser recomposto.
Educação, vai
além de informar ou corrigir.
A educação forma o caráter. E isso saberemos nos momentos em que saímos dos portões de casa e ganhamos vida própria. Importar-se com os filhos, seja em que situação for, também significa cuidado e amor.
A educação forma o caráter. E isso saberemos nos momentos em que saímos dos portões de casa e ganhamos vida própria. Importar-se com os filhos, seja em que situação for, também significa cuidado e amor.
Bom dia meu querido irmão!
ResponderExcluirExcelente postagem, muito instrutiva!