Em todo fim de ano ele prometia à família que deixaria
de beber. A bebida o estava prejudicando, tanto no trabalho, quanto em suas
relações sociais. Essa promessa que fazia, tinha muito a ver com os
constrangimentos que sentia. Era uma
promessa que expressava mais um desejo, do que sua possibilidade solitária de
lutar contra o alcoolismo. No trabalho já estava passando por problemas por
causa da bebida. O patrão já havia dado
várias chances para ele, por ser um bom profissional e muito competente em seu quadro de funcionários.
Ele parecia um escravo do alcoolismo.
Estender a mão em sinal de apoio é grande alívio para quem precisa de ajuda. |
Ele chorava e se
lamentava porque não tinha forças para deixar a bebida. Ele sempre prometia à família, mas não
conseguia cumprir. A força de vontade dele, necessitava de ajuda externa, pois
como dependente alcoólico, sua vontade não era suficiente. Ele tinha consciência que sua vida estava
sendo arruinada.
A situação tornou-se insustentável, quando ele sofreu
uma convulsão alcoólica de tanto que havia bebido durante as festas de fim de
ano.
Foi em 1996 que às pressas foi internado na emergência
de um hospital público. Mas foi ali, no corredor da emergência, diante da
família, que chegou um homem. Parecia um cristão. Dizia com palavras de
conforto, que aquele problema não estava perdido. Aconselhou os familiares a procurarem a clínica onde ele trabalhava. Segundo
ele, muitos em condições piores eram
recuperados da bebida. Mas naquele momento, a família estava muito preocupada
com o estado de saúde do rapaz, que acabara de entrar em coma alcoólico e quase morreu.
A família descobriu depois, que o motivo de ele ter se embriagado daquele jeito, era por que
ele havia assinado aviso prévio da empresa onde trabalhava.
Quando há afinidade nos propósitos as ações ganham reforço. |
Ao se recuperar, ele contou à família que não aguentava
mais aquela vida - a família o incentivou a se internar numa clínica para se
recuperar do alcoolismo. Mas a clínica cobrava uma taxa de manutenção mensal. A
família não tinha condições urgentes para interná-lo. Mas cada um foi fazendo
sua parte, juntava um pouco aqui, um pouco alí, e conseguiram o montante
necessário. Foram 06 meses para passar pelo período de desintoxicação e
tratamento. Agora ele parecia recuperado, com uma aparência melhor, saudável e
muito disposto. Ele foi orientado a não
frequentar lugares onde tinha bebida e que nesse período era importante ele
evitar toda e qualquer situação que o levasse à bebida.
E assim foi. Já se passaram 15 anos. Nunca mais ele pôs
um gole de bebida na boca. A família o ajudou. E ele aceitou ajuda, sem ser
criticado, ofendido ou discriminado. Ele estava consciente do drama e do sofrimento que
vivia.
Na vida, precisamos de chance, de uma nova oportunidade.
Sozinho, as vezes torna-se difícil. Seja qual for o problema, é com o compartilhar de nossos dramas, que encontramos
refúgio e auxílio. Mais que receber uma chance, ele se permitiu uma nova
oportunidade. Isso é possível a todos. A compreensão da família, o respeito
quanto ao problema que o outro vive, a solidariedade e a amizade, são indispensáveis
em toda e qualquer situação que comprometa a vida de alguém, que não
conseguiria livrar-se de seus problemas sem encontrar apoio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário