sábado, 29 de setembro de 2018

COMO A PAZ PODE CAUSAR GUERRA?

           
A aparente paz existe até o ponto em que interesses de alguma parte não são ameaçados. Na dimensão das ações humanas, acordos de paz são meras tréguas após negociações em que uma parte deve ceder e se submeter ao que é imposto da parte com maior potencial de perda. Quem desencadeia guerras, normalmente são aqueles que tem muito a perder; os que detem maior poder. A guerra justificaria uma autoproteção contra interferências que poriam ao chão projetos de poder bem alinhados.

Jesus disse que não veio trazer a paz, mas sim, a guerra. O profeta Isaías ao anunciar a vinda do Messias havia dito que entre outros atributos, Ele seria o "Príncipe da Paz". Agora, como explicar que o Príncipe da Paz traria "espada?"

O discurso de Jesus precisa ser entendido não de forma física e material, mas deve aprofundar-se na alma humana. Ao tentar proteger a Jesus, pouco antes da crucificação, Pedro atacou um soldado romano com uma espada, cortando-lhe a orelha e Jesus o repreendeu. "Se eu quisesse, rogaria miríades de anjos para me proteger". 

A "guerra" que Jesus veio trazer foi o duro embate do confronto do homem contra si mesmo e suas tendências errôneas e pecaminosas; não significava que uns deveriam se levantar contra os outros, subjugando-os à ponta da espada, fazendo sua própria justiça.  

 Na zona de conforto do pecado que se enraiza de maneira profunda na alma dos homens, o encontro com a verdade de Jesus causa um grande reboliço na vida. Diante dessa verdade, o homem precisava deixar tudo o que o prendia às coisas; que o fazia alimentar o egoismo e suas vaidades; a luta por poderes terrenos. Jesus levou espada cortante aos hipócritas, que atavam fardos pesados sobre os outros, mas não praticavam a justiça.  

Ele levou espada aos que dizimavam tudo o que tinham, mas que não ofertava amor ao próximo. O Jovem rico ficou atordoado com o golpe de Jesus em sua avareza, quando a ele disse que deveria vender seus bens e dar aos pobres para ser salvo. Os ricos ficaram desconcertados quando ouviu Jesus dizer que a oferta da viúva pobre foi a oferta aceita por Deus. "Ela deu tudo o que tinha". Isso não seria espada para o orgulho e vaidade daqueles que se sentiam superiores por seu poder aquisitivo mas faltos de amor para com o próximo? 


A presença de Jesus e o conhecimento de sua mensagem e orientação contida em seu Evangelho, mexe com toda a estrutura do homem e abala todos os seus interesses por aquilo que o afasta de Deus. Como estar em paz diante de uma verdade que descontrói toda crença equivocada com a qual convivemos durante grande parte de nossa vida? Como continuar em paz, sabendo que a mentira que vivemos de maneira conveniente e confortável pode nos levar à perdição?  

A "guerra" que Jesus trouxe não foi uma guerra para destruir, mas para restaurar o homem por meio da consciência de seus atos e o que suas ações representam no cenário da luta entre o bem e o mal que é travada no momento de decisões importantes na vida. Quanto mais enraizado aos poderes e conceitos do mundo, maior é a guerra interna para a libertação. Essa guerra existe porque o mal quer continuar dominando a vida e as mentes; é a reação contrária ao opositor do mal que chega trazendo à luz tudo aquilo que é desprezível diante da espiritualidade.

Elias Teixeira  

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