Ele era um pai amorável. Um marido exemplar, carinhoso
com a família; um bom amigo e companheiro. Para ele, sua família estava em
primeiro lugar. Com seu senso provedor, não deixava faltar nada em casa. Seus
filhos estudavam em escola da rede particular, uma das mais caras da cidade
onde morava. Os meninos andavam sempre bem vestidos com roupas de grife;
calçados caros.
A mentalidade consumista ganha espaço porque torna-se algo comum. |
De certo modo, viviam uma vida confortável,
diferentemente da maioria dos que moravam em seu bairro. Ele não era um homem
rico, mas trabalhava duro para conseguir manter seu padrão de vida, por
considerar que sua família merecia o melhor, desde o alimento ao
vestuário; dos objetos de valor e apetrechos eletrônicos ao carro. Para obter
tudo o que tinha, desdobrava-se em dois empregos; à noite, como professor
universitário, lecionava numa faculdade numa
cidade vizinha. Mesmo dando o melhor conforto para os filhos - o que julgava
importante para eles - sua presença em
casa com os meninos era rara. Mal via os filhos, que cresciam, se desenvolviam,
com tantas novidades para compartilhar com o pai, mas impedidos pelo distanciamento
circunstancial. O tempo era escasso para
ele. Parecia viver correndo contra o relógio. Certa manhã, ao levantar-se cedo
para o trabalho, como fazia todos os dias, sentiu forte dor no peito e foi
levado ao hospital. Ele estava infartando. Internado por alguns dias, começou a
refletir sobre sua vida. No leito do hospital não se desligava. Ao mesmo tempo
em que se preocupava com seu trabalho, fazia seus cálculos de quantos dias estava
perdendo, furtando-se à presença da família devido a sua busca frenética por
manter um padrão de vida que avaliou friamente não ser tão necessário; foi ali
que ele pensou como ele poderia mudar. E foi alí, se recuperando, que tomou uma decisão. Ele entendeu que sua
família poderia consumir menos, sem passar necessidade; que seus filhos e
esposa poderiam vestir-se bem, sem ter que usar roupas de marca tão caras por
pura ostentação. Por algum tempo ao analisar sua vida e a maneira como estava
se desgastando com tanto trabalho, pensou, também, sobre como as pessoas o
veriam depois dessa mudança. Passou por sua cabeça pensamentos divididos, ao
pensar no choque que seus amigos teriam ao perceber sua mudança no padrão de
vida. Mas reconsiderou que mudaria por uma boa causa. Mudaria por sua família,
por sua saúde. Era necessário. Foi assim que ele decidiu deixar um dos empregos,
o que fez diminuir sua renda.
Algum dia, descobriremos que as coisas essenciais para a vida não tem preço. |
Os filhos passaram a estudar numa escola mais barata e,
nem por isso tiveram mal desempenho. Aprenderam a desperdiçar menos; a esperar
menos e a valorizar mais as aquisições. Experimentaram, na prática a viver uma
vida modesta e com mais qualidade. O que tinham era essencialmente o
necessário.
Os gastos com o supérfluo foram regredindo. A família
estava mais unida agora. Ele pasou a ter mais tempo com os filhos e
experimentou coisas que nem imaginava. Gastar nos passeios, como faziam, já não
era algo obrigatório. Aprenderam a passear no parque; admirar as paisagens, a
conversar. Agora bem recuperado da saúde, ele olhou para trás e percebeu quanto
tempo perdeu, vivendo uma vida escrava para dar satisfações à sociedade
consumista na qual aprendeu viver.
O comportamento consumista tem consumido muitas
famílias. Consumido a presença dos pais junto aos filhos; consumido a saúde
física e mental. Consumido o tempo para uma boa conversa, o sentar-se à mesa
para um jantar em família.
O comportamento consumista tem levado famílias à
falência, por um apelo quase que coletivo de que devemos parecer para ser;
ostentar para sermos vistos, não importa o quanto isso venha custar no futuro.
Ao avaliar nossa vida e nossas condições, perceberemos que podemos consumir
menos, comprar menos, desperdiçar menos.
Há outras maneiras não convencionais que promovem momentos felizes. |
Ao colocarmos na balança as decisões que pretendemos
tomar, é preciso avaliar o que de positivo poderá nos restar. Muitos deixam de
mudar, reduzir, diminuir, pelo simples fato de não querer passar uma imagem que
poedria ser interpretada como de fracasso, de perda, segundo o olhar daqueles
que estão de fora, que dificilmente sente na pele o sacrifício do outro na
tentativa de dar resposta ao que os
outros esperam.
Mas não há nada que compense uma vida com mais
qualidade. Muitas vezes, o orgulho faz com que permaneçamos do mesmo jeito por
fora, mantendo as aparências e os padrões dentro dos conceitos dominantes, mas
carcomidos por dentro, o que pode levar à ruína em questão de tempo.
A humildade para reconhecer que precisamos mudar, nos trará
de volta a liberdade e o controle de nossa vida. Neste caso, a humildade que
nos faz reconhecer a necessidade de mudança pode se tornar o princípio da
regeneração.
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