Ele cresceu num lugar pobre. Quem via aquele menino,
talentoso e dedicado aos estudos, mesmo vivendo em condições precárias, dizia
que ele nasceu no lugar errado.
Muitos diziam a seus pais, que ele precisava estudar numa
melhor escola; relacionar-se com pessoas de mais influência para poder
desenvolver-se e tornar-se “alguém” na vida. Seus pais não entendiam muito bem
essas coisas. O pai era um lavrador. Cuidava de um sítio. Sua mãe, do lar, mal
sabia ler e escrever. Mas o menino crescia alí, naquele lugar simples, sem
muita estrutura.
Mesmo em meio a pessoas consideradas sem influência e estudante
de escola pública, o agora adolescente
tornava-se o centro das atenções, tanto por suas habilidades nos estudos,
quanto por sua veia artística. Ninguém sabia explicar como ele se desenvolvia
daquela maneira. Ele cantava, desenhava, tocava instrumentos musicais, era nota
dez em quase todas as matérias. Alguns o consideravam um gênio.
Mas, nada disso era motivo de orgulho dos pais, nem motivo
para receber tratamento especial. Eles encaravam isso de maneira tão natural,
como se todas as crianças fossem como seu filho. Não procuravam compará-lo com
outros meninos de sua idade, por isso não faziam distinção. Talvez pela
simplicidade de seus pais em lidar com a vida – isso não era visto como um caso
especial.
Muitos não conseguem avançar na vida sem virar as costas para o que pode ser mais importante. |
O menino cresceu. E com o passar dos anos, começou a olhar
para si mesmo e, percebia que era diferente dos rapazes de sua idade. Ele tinha
várias habilidades, expressava-se bem, parecia ter um futuro brilhante pela
frente. Mas, certo dia, começou a ver as condições de sua família. Olhava para
seus pais e sentia vergonha deles, bem como da casa em que morava. Seus pais pareciam
viver numa outra esfera, sem muitas reações sobre o que o filho era. O rapaz se
sentia orgulhoso quando era mencionado, elogiado lá fora, aplaudido e tido como
uma pessoa brilhante. Mas, dentro de
casa, não tinha essa profunda admiração que os outros tinham por ele.
Isso foi apontado futuramente como um motivo para afastá-lo
dos pais. Assim, ele procurou um lugar que considerava melhor para viver. Procurou
alçar vôos mais altos. Seus pais ficaram tristes em se separar do filho, do
qual nem se despediu direito. De fato, esse menino parecia não fazer parte
daquela família.
Com o passar dos anos, ele ignorou os pais definitivamente.
Seu pai, já avançado em idade, castigado pelo trabalho de sol a sol, adoeceu.
Agora, o único filho que havia deixado o lar, foi procurado pela mãe. Ele,
agora, um homem formado, casado e bem sucedido na vida, ao ser avisado pelo
porteiro da presença da mãe em seu prédio, recusou-se atendê-la. Ele chegou a
dizer que não conhecia aquela mulher, de roupas simples e expressão sofrida,
contrastante com o luxo da fachada do edifício onde o filho morava. Ela
insistiu, mas em vão.
Foi assim, que muito abatida ela voltou para casa. Ao tomar
conhecimento da situação dela e do
marido, seu vizinho, um rapaz órfão de pai e mãe, que trabalhava como vendedor
ambulante, se propôs a ajudar aquele casal, desamparado pelo único filho.
Aquele vendedor, vivia só, tinha suas economias, das quais tirou parte para
ajudar na compra de remédios para seu vizinho.
Nossa mediocridade pode acentuar-se com mais evidência quando alcançamos o poder |
A vida é cheia de surpresas. Aquele que as vezes é visto
como pobre, sem habilidades ou aptidões, pode possuir a maior riqueza do mundo.
O sentimento de compaixão pelo próximo, talvez seja a grande riqueza que
devemos cultivar. Por outro lado, os que orgulham-se por seus postos, que
buscam aplausos e reconhecimento, podem viver a aridez de um coração frio e sem
amor. Nenhuma riqueza ou capacidade humana pode superar a sensibilidade que nos
leva a olhar para o nosso semelhante, como a nós mesmos.
Esse filho foi ingrato, mesmo sob a justificativa de não
ter recebido elogios e atenção devida dos pais. Ele julgava merecer um tratamento
que seus pais não lhes dava.
De que vale nossas conquistas se boas lembranças não deixarmos para os que vem depois de nós? |
Esperar reconhecimento dos outros para dar-lhes alguma
coisa em troca, é viver na mediocridade. Isso pode esconder, de fato, o que
temos no coração, usando essas questões como um subterfúgio para não assumirmos
que precisamos de humildade. Diante de todas as aptidões e inteligência que
esse jovem possuía, a mais importante ele não cultivou: a caridade.
Muitas vezes, é na riqueza que a nossa pobreza se acentua. Mas os sinais são percebidos na trajetória do caminho pela maneira como valorizamos as coisas. Se entendemos que só mesmo por conquistas materiais mostramos o nosso valor e nossa capacidade, assim julgaremos os outros. Se julgamos que as roupas, os bens e o status são elementos que nos valorizam, assim também julgaremos os outros.
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