Era um menino ainda franzino e, quem o via trabalhar, sentia piedade; outros comentavam sobre
sua coragem e disposição, não por que ele trabalhava, mas, pelo que fazia. Para
um menino de 09 anos, ajudar descarregar o caminhão de verduras de seu José era
trabalho pesado. Quem olhava de fora tinha opiniões diferentes. Uns comentavam, até com certa admiração, o fato de um menino tão pequeno fazer o que fazia, enquanto
outros brincavam. Outros diziam ser um absurdo aquele menino carregar aqueles
caixotes cheios de verduras. Mas o curioso era que o menino não era empregado
de seu José. Ele fazia por que queria. E, assim era nas redondezas com a
vizinhança. Diversas vezes encontrava-se com vizinhos que desciam do ônibus com
sacolas de compras e se prontificava a ajudar levar o peso até em casa.
Ele não era um
menino de rua. Morava ali mesmo no bairro. Tinha outros irmãos mais novos. Seus
pais eram bons vizinhos e pessoas honestas, apesar de pobres e ter uma vida
difícil. Gostavam e orgulhavam-se da maneira como seu filho ajudava as pessoas. Em casa era a
mesma coisa. Sempre prestativo.
Mas ele decidiu
trabalhar. Comprou uma caixa de isopor, e começou a vender picolé no centro da
cidade onde morava, exatamente num momento muito difícil para seus pais. Seu
irmão menor ficou doente e, os recursos da família, não eram suficientes. Apesar
de pouco dinheiro obtido com a venda dos picolés, dava para ajudar em outras
coisas - por exemplo, comprar pão e leite - algum alimento para casa, o que já
ajudava.
Certo dia, ele
chegou perto de um homem e ofereceu o picolé, dizendo: "Compra, moço;
compra pra me ajudar; eu quero ser alguém na vida".
Erramos ao associar o que as pessoas fazem ao que elas são. |
Aquele menino,
tão prestativo e de grande amor no coração pelas pessoas e pela família, pedia
ajuda para ser alguém na vida. Dando atenção ao pedido do menino, ele o
perguntou: "O que é ser alguém na vida? O que quer ser? O que você pensa
que lhe faria alguém na vida?"
Talvez o menino
não tivesse noção exata do que estava pedindo. Muitas vezes, até mesmo por vício
de linguagem, alguns se manifestam dessa maneira, com o objetivo de sensibilizar aos outros para aquilo que oferecem, como no caso dessa criança, que oferecia seu
picolé, sob o pretexto de que sua venda o ajudasse a ser “alguém” na vida.
Diante daquele
homem, o menino disse apenas, que queria vender seu picolé. E aquele homem
disse ao menino: - Todos nós, somos alguém na vida. Você é alguém.
Insubstituível. Você é único; não há outro igual a você.
É fato que aprendemos a avaliar sobre o que vemos. É necessário mudar o olhar para enxergar. |
A verdade, é que
aprendemos que ser alguém, é ter uma profissão que nos dê estabilidade ou
notoriedade; aprendemos que ser alguém é portar um diploma universitário; é
alcançar status social; conquistar o primeiro lugar nos objetivos que
perseguimos. É certo que tudo isso pode ajudar uma pessoa a tornar-se requisitada e
até mesmo reconhecida. Mas é o alguém que há por trás desses desejos, desses
sonhos; é o alguém que conquistou o status, o diploma, a notoriedade, que é
importante.
O que fazemos pode dar uma ideia de nossas condições. Não do que somos. |
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