sábado, 23 de janeiro de 2016

A GUARDA DO SÁBADO E O PLANO "B"

É mais fácil aceitar uma situação difícil sabendo que ainda há crédito para ser usado. É mais confortável atravessar uma dura situação tendo uma agenda cheia de amigos influentes com quem contar. Não é tão doloroso enfrentar um desemprego, tendo uma poupança (ou a possibilidade de ganhar uma causa na justiça trabalhista) que dá conforto até que se encontre outra oportunidade de trabalho ou se liberte do patrão. Do contrário, a fé seria a única válvula de escape. Tão somente a fé. 

Situação assim passou seu José com seis filhos menores para criar. Eu o conheci. Ao entender o Sábado como um dia de repouso solene à Deus, comunicou ao seu patrão da decisão que tomou. Pediu então que fosse liberado nesse dia. O patrão endureceu. Seu José não retrocedeu, e foi demitido da metalurgia onde trabalhava. Ele não era um alto funcionário de grande salário, nem uma pessoa influente no meio, que tivesse como articular um outro emprego com facilidade. Não conhecia nenhum empresário de sua fé ou empresa de sua igreja para pedir um novo emprego. Era apenas um operário, socialmente considerado de classe baixa. Assim, a notícia de sua demissão deixou a esposa preocupada com a situação, ainda mais com filhos pequenos. Mas ela foi forte, decidida a também, junto com o esposo e os filhos, observar o dia do Senhor. Seu José sofreu, pagou um preço alto, colocando em dificuldade toda sua família em nome da fé em Deus que culminava na observância do sétimo dia, como dia de descanso. 

Goleiro Vitor, do Londrina-FC, 
que ganhou destaque nacional
ao se recusar treinar aos sábados 

por causa de sua fé. 

Essa situação levou muitos amigos a dizerem ao colega de trabalho que "a Igreja não pagaria suas contas". Mas seu José havia aprendido que seu caso não era com igreja, mas com Deus. 

E os colegas insistiam: "Deus quer que você sofra com a sua família essa situação? O que você vai comer? Como sustentará seus filhos?"

A questão da guarda do sábado, o homem prático, em seu estado comum, não entende. Quando friamente pensa nos riscos de suas obrigações sociais e familiares ou em sua carreira profissional, sem fé, não é possível que decida.

Mas a questão do sábado não deve ser tratada nesse contexto, pois se choca entre o físico e o espiritual. E, em questões pontuais, um acaba desconstruindo o outro.


Ser fiel não leva em questão as condições sociais. 
A fé a todos nivela.


O que se vê em muitos casos, é a supervalorização da atitude de pessoas que decidem enfrentar seus empregadores, mesmo quando são ameaçadas de saírem prejudicadas em nome da fé. 
Mas a questão da observância do sábado deve superar isso. Não deve servir como instrumento para tornar o sábado importante por causa da importância ou não de quem decidiu observá-lo, nem pela influência social do indivíduo ou a que classe social pertença. Quando assim é visto, a observância do sábado passa a ser vista apenas como uma questão "escolha" pessoal e, assim sendo, cada indivíduo passa a apresentar suas razões para aceitá-lo ou não, ou procurar uma religião que não pratica a mesma fé. Nesse caso, a questão vai além. Não é por escolha. É por entendimento. E é por esse entendimento que indivíduos são capazes de entregar-se à fé, custe o que custar. Como contrariar alguém que diz que não observa o Sábado porque precisa pagar suas contas, e que a igreja não fará isso em seu lugar? Tem razão. É verdade. Como contrariar alguém que diz que Deus não mandaria você colocar em risco a sua família por causa de doutrina? Não estaria falando a verdade? Sim.  Mas é natural que pessoa que diz tal coisa ainda não tenha entendido o que significa a observância desse dia. E não entenderá, enquanto esse assunto estiver sendo tratado entre o "trabalhar" e o não "trabalhar," ou empunhar bandeiras para provar quem está certo e quem está errado. Essa é a maneira humana e superficial. Seria como o "dedo" do homem, tentando dar uma ajuda ao que Deus escreveu com seu próprio dedo nas tábuas dos dez mandamentos que esse dia deveria ser lembrado.   

A questão de fé não leva em conta um plano "B". Significa tomar a decisão mesmo não tendo nada que assegure o indivíduo a cumprir suas obrigações sociais e garantir seu sustento, por mais radical que esse pensamento pareça. Por isso o reconhecimento não deve recair sobre a pessoa que decide assumir a fé, mas sobre o motivo. O motivo é o princípio. Não importa em que condições de vida a pessoa se encontre. A fé é pessoal, e não vem de nós mesmos. Julgar essa questão (fé) é levar sentimento de culpa àquele que ainda não foi liberto pela verdade, pois isso em nada contribui para fazê-lo entender, senão contestar (até mesmo colocar em jogo o amor de Deus pelas pessoas) assim como fizeram os colegas do seu José, operário da metalúrgica com seis filhos pequenos para criar, que foi demitido porque não teve o sábado liberado de suas obrigações com o empregador. "Deus quer o seu mal e o de sua família?" - disseram eles. 

Fé não gera contrapartida.
Não é um negócio com Deus.
É uma entrega. 

A fé de alguém não é algo a ser ovacionado, nem servir oportunamente de base para a pregação da submissão, pois cada indivíduo decide o que entende por princípio e, somente aqueles que passam por tal situação, conhecem seus motivos. Isso não deve servir como medalha de honra individual. A observância do Sábado tem, em sua essência, a adoração e o reconhecimento de Deus como o Criador. E isso faz diferença em nossa vida: a quem servimos e adoramos. De Deus vem o nosso galardão.   

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