Lembro-me que o short de nylon virou uma "febre" nos anos 80. O sonho de consumo de uma criança pobre, era vestir um short de nylon, porque passou a ser uma "curtição", algo que estava na moda.
Certa vez, um carro de propaganda de um circo que havia sido montado num bairro carente, levava a reboque uma jaula com o macaco "Joel", a atração do evento. E lá passava o macaco, vestido com um short de nylon.
Muitas crianças comentaram: "Puxa, o macaco tem um short de nylon, e eu não tenho."
Haveria, porventura, alguma criança em cuja cabeça passou a ideia de fazer mal ao macaco para roubar-lhe o short? E a notícia de que alguém foi atacado por causa de um tênis novo? E aquela garota da escola que desfigurou o rosto de sua colega por achá-la bonita demais?
Haveria, porventura, alguma criança em cuja cabeça passou a ideia de fazer mal ao macaco para roubar-lhe o short? E a notícia de que alguém foi atacado por causa de um tênis novo? E aquela garota da escola que desfigurou o rosto de sua colega por achá-la bonita demais?
É muito comum para quem é "bombardeado" por apelos consumistas, desejar aquilo que não tem. Apesar de aquelas crianças não terem um short de nylon, elas não estavam nuas.
A educação exerce um papel muito importante para ampliar a visão das pessoas sobre questões que se resumem na supervalorização de um fato isolado, de importância não tão relevante em sua essência, mesmo que para a "vaidade" seja importante.
Eu sempre rejeitei a ideia que ouvia no passado, quando em certas discussões entre colegas de escola, ou em conversas de alguns adultos, que diziam: "O banco foi assaltado? Não tem problema. Os banqueiros tem muito dinheiro!" O mesmo argumento ocorria quando algum rico era roubado ou sequestrado: "Pelo menos ele é rico. Tem muito dinheiro."
Eu não aceitava esse olhar, porque não conseguia considerar a posse do assaltado, mas o crime cometido.
Parece que esse mesmo argumento é usado, por exemplo, quando um pobre é levado à delegacia policial após furtar algo para comer. A necessidade do pobre é colocada como uma justificativa para o "crime" e, parece que quando há um motivo forte para o crime, ele se torna menos crime. Se existe uma boa justificativa, o crime é mais aceitável.
Uma sociedade que assume esse olhar como um fim para combater as diferenças sociais, aquecendo as lutas de classes pelo ódio, pela força bruta, pelas invasões, ou por qualquer tipo de ação movida por um sentimento de necessidade, inveja ou ambição sobre objetos ou coisas que pertencem ao outro, ou que justifica esses atos por uma necessidade básica, é despida de valores que são capazes de refrear os impulsos animalescos da sobrevivência. Por outro lado, a solidariedade, o compartilhamento, o olhar fraterno dos maiores sobre os menores não advém de uma imposição, mas de um alcance espiritual que supera as escalas de discussões no âmbito de políticas que apregoam a justiça social que sustenta essa celeuma. Sem o alcance individual dessa escala espiritual elevada, os que detém bens, se tornam tão animalescos para defender suas posses, assim como os que anseiam esses bens atacam para possuir o que pertence ao outro.
Toda discussão política que se resume em lutas de classes, sem um sistema educacional que leve o indivíduo a entender que o compartilhamento, a solidariedade, o amor ao próximo, o respeito às coisas alheias, o limite dos direitos, tende a se aniquilar nas lutas armadas e na arregimentação do ódio, do rancor que leva o ser humano para a escala mais baixa que se pode alcançar. O que poderá mudar a história, não é a força da lei que obriga os homens amarem uns aos outros, mas a força do próprio amor.
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