Hoje ela se
arrepende. Reconheceu que foi intransigente, inflexível, apesar de todos os
problemas e responsabilidade do ex-marido. Ele era um homem trabalhador, porém
muito egoísta e individualista em seus assuntos. Não abria mão de ficar sozinho
quando chegava em casa. Mal dava atenção para os dois filhos pequenos, que
muitas vezes vinham recebê-lo com alegria. Sua frieza em tratá-los causava-lhes
grande frustração, pois esperavam uma reação mais agradável do pai. Era a
mulher quem cuidava de tudo. Das crianças, do supermercado; das contas a pagar;
o marido se recusava até ir à padaria para comprar o pão para o lanche. Mas
assim ele foi criado. Quando era inquirido, dizia para a esposa que sua mãe o
servia assim, e fazia de tudo para ele.
O casamento foi se
desgastando sob esse estresse emocional. Com dois filhos de 09 e 07 anos, ela
decidiu tocar a vida sozinha. Foi assim que
pediu para passar uns tempos na casa de sua mãe até conseguir um
trabalho e alugar uma casa para morar com os filhos. Os meninos começaram a
estudar na parte da manhã em escola pública. à tarde, ficavam sob os cuidados
da avó.
Ao conseguir
emprego, a filha alugou uma casa, e levou os filhos. Juntando o dinheiro do
trabalho dela e a pensão que o marido passou a dar aos meninos, dava para as
despesas básicas, as vezes com muito aperto.
Mas, agora,
sozinha com os filhos, começou a ter problemas por não ter com quem deixar os
meninos. Sua mãe já era idosa, e ela não queria que sua mãe se desgastasse com
os netos, numa fase tão desafiadora na educação das crianças. Diante da
situação presente, ela começou a pensar na decisão que tomou.
Vivendo este
drama, ela conseguiu parar para pensar o que poderia ter feito para salvar seu
casamento. No fundo, ela sabia que dificilmente seu marido mudaria de atitude
depois de tanto tempo de convivência. Aos fins de semana, longe do trabalho,
sozinha com os dois filhos, não sabia o que fazer. Em todos os cantos da casa
em que olhava, ela via que agora, estava sozinha. Era apenas ela para resolver tudo.
Sentia necessidade de alguém por perto; sentia falta de proteção. Diante dessa realidade, considerou que, mesmo
com o marido em casa, nos tempos em que era casada - que não fazia praticamente
nada para ajudar - pelo menos era alguém que poderia estar ali por perto, e era o pai de seus filhos, com suas
responsabilidades peculiares. E o pior que ela não imaginava os transtornos
emocionais que teria ao encarar a vida sozinha com os filhos. Os olhares de
discriminação e até mesmo de pena da vizinhança. As piadas hostis que
ouvia quando passava com os filhos na rua do bairro eram sempre desagradáveis.
Toda essa situação gerou-lhe uma ansiedade tão grande, que começou a atrapalhar
sua vida no trabalho e no cuidado com os filhos.
Hoje ela revela: “por mais difícil que seja um casamento,
depois que alguém foi casado, é mais difícil é recomeçar a vida. O melhor é
sempre tentar salvar a relação”. Ela considera que foi precipitada e se
arrepende.
Quando percebem que não podem tudo, a sensação de impotência, em muitos casos, pode levar à depressão, pessoas que alimentam o orgulho. |
Ela não mudou de
opinião a respeito do marido, mas, disse ter amadurecido para entender que
seria possível adotar a tolerância, considerando que cada pessoa tem suas
limitações e seus defeitos. Avaliou,
também, que não é fácil recomeçar uma
vida depois da experiência de um casamento, ainda mais quando se tem filhos. Há
muita coisa envolvida. Não é algo que se descarta sem consequências
materiais, físicas e emocionais. Os problemas nas relações humanas são
sempre solucionáveis, quando um lado demonstra interesse e compreensão.
É verdade que hoje
tentam passar a idéia moderna de relações descartáveis, práticas -, sob
o argumento de que se nao der certo tem outra saída. Há até mesmo quem
considere que casamento está fora de moda, e que cada um constrói suas relações
do jeito mais prático para si mesmo. Mas, seja de um jeito ou de outro, quando
o casamento foge de seu propósito ou princípio orientado pelo Criador, há
sempre sofrimento. E cada sofrimento ganha a dimensão da importância que damos
aos motivos pelos quais sofremos. Mas,
até neste ponto, cabe a passagem bíblica: “no que depender de vós, tende paz
com todos”. Não existe a parte mais forte ou a mais frágil nas relações
humanas, como se sugere. Quando há respeito, compreensão, solidariedade entre
todos, cada um estará cumprindo seu papel e assumindo suas responsabilidades.