Nem todos tem o equilíbrio de pensar em si mesmo sem deixar o
compromisso com o outro.
Há um exemplo clássico descrito na Bíblia que relata a
experiência do profeta Jonas. Ele chegou até mesmo a “discutir” com Deus, negando até o último instante a fazer o que
Deus pedira: ir até a cidade de Nínive
avisar aquele povo que desconhecia o certo e o errado, de que a cidade
seria destruída se não houvesse arrependimento de seu povo. Uma cidade idólatra
e adúltera, onde a violência era generalizada. Aquele povo nem de Deus era,
como teria dito Jonas; tinham outros deuses a quem invocavam como o deus
verdadeiro.
A relutância de Jonas talvez não tivesse ocorrido por medo de
enfrentar aquela cidade, mas por acreditar que para seus moradores não havia
solução. Mas era Deus quem o estava ordenando ir. Por um lado, essa relutância
mostrou o lado questionador do profeta, que não aceita uma ordem sem demandar
suas opiniões, e que por outro lado mostrava que ele parecia ter um sentimento
egoísta de pensar em si mesmo, que se revelou quando Deus perdoou os pecados do
povo que se arrependeu. Jonas pensava em sua reputação de profeta: “Como fico eu como profeta? Eu disse o que o
Senhor mandou de que a cidade seria destruída e o Senhor muda de ideia e não
destrói a cidade?”
Mas Deus foi exaltado até mesmo no momento em que o profeta
foi jogado ao mar quando descobriram que ele era o culpado pela tempestade que
atingiu a embarcação. Comandante e tripulação reconheceram o Deus criador, o
Deus de Jonas, como o Deus verdadeiro. Não é apenas quando tudo vai bem para
nós particularmente que Deus se manifesta. Muitas vezes somos como instrumentos
dEle para que seu amor se manifeste aos outros. Nem sempre ser lançado ao mar
significa derrota, a não ser se nutrirmos pensamentos egoístas e não reconhecer
que esse “incidente” pode resultar em manifestação da vontade de Deus para a
salvação de outros. Jonas se sentiu humilhado, ridicularizado; por muitas vezes
mostrou mal humor, até mesmo ódio contra os que não temiam a Deus, como se
tivesse “tomando as dores” de Deus e
tentando pensar no lugar dEle.
Mas parece que decretar o fim e a morte dos
incrédulos e rebeldes traz um certo “alívio” para muitos que se apegam ao
que Deus determinou. A pregação do juízo pode trazer arrependimento àqueles a
quem a mensagem é pregada, mas não é admissível o questionamento a Deus sobre a
salvação de quem quer que seja. Parece que a nossa palavra como profetas tem
que se cumprir do jeito que anunciamos, sem contar que a misericórdia de Deus
pode alcançar o coração que se arrepende até na última hora. Pensamos em nossa
“imagem” e reputação como povo de
Deus quando profetizamos e a profecia foge ao nosso controle. Não podemos
determinar a ação de Deus. Como seus servos devemos acatá-las, pois diante da vontade de
Deus, nossa vontade nada representa. Jonas tentou fugir da missão, desviando o
rumo, argumentando de acordo com sua visão e conhecimento permeado de
preconceitos e julgamentos. Mas por fim, a vontade de Deus prevaleceu. Jonas
não quis. Deus o fez cumprir a missão, mesmo com todas as observações que
tinha. Isso também é mostra de que Deus é soberano até sobre o livre arbítrio
do ser humano, quando o faz entender que cada um de nós pertence à Ele e que
por isso é capaz de mudar o fim da história daquele que, ao reconhecer seus
pecados, de Deus roga o perdão sincero. E não depende exclusivamente de nós. Deus opera em nós também o querer.
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