sábado, 1 de novembro de 2014

AMAR TAMBÉM É ENSINAR A VIVER


Na terceira vez que o jovem foi à rádio pedir ajuda, perguntei a ele se tinha vontade de trabalhar e se ele já tinha trabalhado com alguma coisa.  O rapaz foi à emissora fazer um apelo para conseguir alguma coisa para sua família comer, pois sua mãe estava de resguardo do filho mais novo, cujo pai abandonou. Ele tinha outros irmãos pequenos e passavam necessidade. As contas de luz estavam atrasadas assim como o aluguel e sua família corria o risco de ser despejada.
Pelo rádio fiz o apelo diante dele. Conseguimos ajuda, e ele ainda recebeu materiais para trabalhar com o que fazia antes. Era vendedor de doces ambulante pelos pontos de ônibus da cidade onde morava. O apelo do programa tocou um pequeno empresário do ramo que doou muitos produtos para o rapaz.
Passaram-se alguns meses e do aquário vi um rapaz chegando à recepção da emissora e o reconheci. Queria falar comigo novamente e esperou ali no banco da recepção até que fui informado sobre ele. No intervalo sai do estúdio e fui ao encontro dele. Perguntei se estava tudo bem, depois do último contato que tivemos.
Ele sorriu e disse que estava tudo bem, e que tinha ido lá para me agradecer.
-Sabe toda aquela mercadoria que eu ganhei do programa? – perguntou. - -Eu montei uma banca em frente a minha casa e meus irmãos mais novos estão vendendo, e tem uma escola perto, o movimento é bom, enquanto eu saio para vender na rua.
Fiquei impressionado com a notícia e feliz porque foi uma ajuda além da cesta básica. Ele recebeu condições de ir além e soube aproveitar a oportunidade e voltou para me dizer o que havia acontecido.
-Dessa vez eu não vim para pedir. Eu vim para agradecer!
Bom seria se todos soubessem aproveitar as oportunidades que recebem e não apenas depender de ajuda sistemática, indo aonde podem conseguir.
A ajuda não foi negada, mas a proposta foi além. O rapaz humildemente aceitou e entendeu que se não fizesse nada, seu destino era sempre pedir ajuda. Se não fizesse nada, a cesta de alimentos acabaria e dependeria novamente da caridade alheia. Mas a caridade vai além. É dar o pão e orientar sobre como granjeá-lo com dignidade.
Assim fazia meu avô Chico, quando os rapazes passavam em frente sua plantação de mandioca e pediam. Ele arrancava a raiz, limpava, colocava nuca sacola e entregava aos meninos.

-Espere agora um pouco – dizia, cortando as ramas em pequenos pedaços que havia arrancado.
-Leve agora, e planta. A terra é boa. Se você plantar também, você terá mandioca e não vai precisar pedir mais.
É bem verdade que essa medida não é política, nem popular. Mas é verdadeira. É fato. Se você pede e recebe e não faz nada. Terá que pedir de novo.
Encolher a mão, jamais. Estender o coração, sim. É preciso entender que nem todos são capazes de criar seus próprios meios de sobrevivência por vários motivos, desde questões de saúde física e mental, entre outros.

Amar não é só doar vida, mas ensinar a viver. É preciso entender que haverá sempre alguém precisando ser carregado na “maca” até receber a cura. O amor que perdoa o pecado e orienta: "não peque de novo."  
Jesus ensinou o amor completo, generoso. Que dá a segunda volta, que oferece a outra face. 

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