Não é possível admitir que um pai cobre do filho uma educação ou que ele corresponda a comportamentos adequados socialmente se ele nunca orientou e instruiu esse filho. As regras e o respeito aos limites precisam ser claros e definidos. Em primeiro lugar vem o ensino que dá o embasamento e a justificativa para que a "cobrança" seja feita depois. É esse respeito que produz harmonia no convívio social. Há muitos que vivem perturbados e sem paz, e ainda provocando a desordem na comunidade em que faz parte, alguns por não terem sido informados, outros por não se adequar as regras de convivência considerando certas regras absurdas. A rotina e as regras fazem parte da construção do caráter humano.
Vivemos um momento em que há mais pessoas buscando seus direitos, não por querer de fato o direito, mas por descontentamento com as regras de conduta. Essas ações, muitas vezes levam a discussão sobre a criação de regras que diminuiriam o poder de ação de outras; uma maneira de colocar suas vontades e conveniências pessoais, acima do que se adequa ao convívio coletivo.
Nos meus tempos de escola, os alunos tinham que estar no portão as dez para as sete da manhã. As sete horas os alunos entravam e em seguida o portão era fechado. Aqueles que se atrasavam para sair de casa sabiam que ao chegar na escola, encontrariam o portão fechado. A regra funcionava. Até hoje, percebo, aquela geração acostumou-se a cumprir horário. São pontuais, não por um "trauma", mas pela maneira como foi ensinada.
Há muitos "enfiando o pé na jaca", mas incomodados com os olhares de questionamento, descontentes até mesmo com os que se oferecem a ajudá-los, para os quais dizem: "Quem foi que disse que eu quero tirar o pé da jaca? O que você tem a ver com isso?"
Por outro lado, podem criar movimentos e campanhas para dizer que quem não "enfia o pé na jaca" não sabe o que é ter os pés confortáveis.
Não há nada de fundamentalismo nas regras. O ser humano é construído; o caráter é formado por comportamentos repetitivos. Não era nenhum constrangimento o pai ou a mãe perguntar ao filho onde conseguiu o objeto que exibia ao chegar em casa. Não há nada de puritanismo nisso. Cuidar da moral e dos bons costumes dos filhos, o respeito à coisa pública e ao próximo, é uma maneira de fazer bons cidadãos para a sociedade. Ensinar aos filhos que "do suor do seu rosto deve comer", significa que o sustento vem pelo trabalho de suas mãos, e isso não significa ser "escravo" do sistema, mas livre da maldição da preguiça e da penúria. E que do fruto de seu trabalho deve viver com a consciência de que foi colhido com dignidade e honestidade, sem desviá-lo do olhar solidário. Incentivá-lo a estudar e dar a ele as bases para uma vida independente, não é torná-lo arrogante e superior aos demais.
Esses dias, eu fazia um barulho em casa por consertar algo, e meu filho disse: "Pai, para com esse barulho. Está me incomodando."
Naquele momento, eu parei, olhei para ele e o ensinei. Disse ao meu filho que a convivência depende de respeito. O barulho que eu fazia era uma necessidade e eu não devia parar apenas porque era um incômodo para ele e que isso ele devia compreender. Continuei a orientá-lo, dizendo que no mundo vamos conviver com muitos barulhos, com muita gente que pode até fazer coisas que nos incomodam, mas precisamos aprender que o mundo não gira em torno de nós, e que fazemos parte dessa sociedade.
Já imaginou se pudéssemos descartar tudo o que nos incomoda? Já imaginou se a nossa verdade, o nosso desejo, a nossa conveniência fossem o motivo para mudar o meio em que vivemos para que tudo se adeque aos nossos interesses, sobrepondo aos interesses dos outros?
Temo que essa sombra esteja diante de nós. Parece que hoje em dia o desejo individual é uma ordem, independentemente da compreensão que devemos ter dos direitos do outro. É uma mentalidade sociopata, psicopata que vem sendo desenvolvida aos poucos por falta de base na educação de berço, de pais que refreiem as inclinações que parecem naturais do ser humano que se baseia no egoísmo, no egocentrismo.
Certa vez uma família contratou uma cozinheira. Ela era famosa por sua feijoada, sempre elogiada e reconhecida pelo prato que fazia. Seus ex-patrões diziam que não havia uma feijoada como a dela.
Ao fazer o mesmo prato para os novos patrões, ela não teve o mesmo reconhecimento. Ela foi chamada e o novo patrão explicou a ela como queria que o feijão fosse preparado.
-Mas ninguém nunca reclamou do meu feijão! Meus ex-patrões adoravam minha feijoada - replicou a cozinheira.
-Mas eu prefiro que você faça da maneira como lhe expliquei - considerou o atual patrão.
A convivência e as relações precisam ser flexíveis, e isso ocorre quando deixamos de ver apenas o nosso lado, mas considerando o lado do outro. Quando a vontade pessoal sobrepõe a interesses coletivos e a partir desse ponto inicia-se a criação de instrumentos para favorecimento unilateral ou de grupos distintos, a sociedade estará dividida entre conceitos e preconceitos; em princípios e hábitos e costumes, cada qual tentando sobrepor-se ao outro. A convivência é estremecida.
A convivência social saudável precisa ser harmoniosa e não cabe o discurso: "eu sou dono do meu nariz e ninguém tem nada a ver com isso." Se por um lado esse pensamento mostra uma repulsa aos padrões da convivência, por outro lado, pode ser um elemento de desconstrução da paz social. É importante ressaltar que a desordem é contagiante; o ambiente de contendas é afetado por descontentamento, que deve ser avaliado, principalmente, por quem se vê descontente. É necessário avaliar suas razões, admitir seu papel diante do todo.
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