sexta-feira, 26 de setembro de 2014

NÃO COMA MAMÃO

-Doutor, sempre que eu como mamão fico com a mão amarela - disse um paciente intrigado com o fato.O paciente surpreendeu-se com a resposta curta, óbvia e objetiva: -Se você come mamão e fica com a mão amarela, não coma mamão - disse o médico com firmeza. 
Certamente o paciente já havia deixado de comer mamão por causa da amarelidão na mão quando consumia a fruta, mas ele não esperava que sua revelação ao médico lhe rendesse essa resposta. 

Levando para outros aspectos da vida, é notório que não queremos ter o trabalho de investigar determinadas coisas, o porquê de vivenciarmos situações das quais perdemos o controle por nós mesmos, e buscamos o caminho mais fácil da aceitação. Há muitos que preferem "empurrar a vida com a barriga" porque temem o confronto da libertação. Mas como aceitar sem conhecer? Se alguém está irremediavelmente perdido, é preciso que ele tenha certeza disso, não uma hipótese ou suposição óbvia que se vê ou se percebe a curto prazo.Muitos podem adiar suas decisões por uma investigação profunda e seus reais motivos, simplesmente pelo medo de uma resposta que imagina. É assim que a vida paralisa, apenas cumprimos o ciclo de nossa existência e passamos pela vida, sem ao menos dar-nos a oportunidade de vivê-la com conhecimento e certeza. Engana-se quem pensa de que a única certeza que o ser humano tem é de que um dia vai morrer. Por outro lado, levamos em consideração com base em formas de pensar predefinidas de que tudo é relativo, e que cada pessoa vive o que escolhe viver, decide fazer o que realmente quer, e olhando com mais profundidade, observamos que não temos o controle de tudo. 

O paciente que queria uma resposta do médico sobre a amarelidão de sua mão ao comer mamão é um indício que pode ser ampliado para outras áreas da vida, de que muitas coisas fogem ao nosso controle. Mas o conhecimento da natureza das motivações e causas daquilo que não é natural e, que de algum modo, foge do que é convencional, pode levar a uma resposta menos rasa, capaz de despertar o princípio da mudança. 


É mais fácil dizer que "pau que nasce torto não endireita nunca" do que ter o trabalho de acertá-lo.Os defensores do óbvio, certamente dirão: "Por que o pau não pode ser torto? Deixe-o torto. Se nasceu para ser assim, que assim o seja." Essa é a visão óbvia e cômoda, que de algum modo, pela lógica atrai a simpatia de muitos. O que você faria se seu filho desejasse comer um tijolo, em vez de um bife? Não procuraria um médico para saber o que se passa com ele? 
É um exemplo de algo que se exterioriza, mas que tem uma causa invisível. Você o permitiria comer tijolo, só pelo fato de ele ter escolhido por algo que satisfaria seu estranho apetite, sem considerar os riscos para sua saúde física? Não procuraria ajuda para seu filho ou algum tratamento? Em muitos casos, aceitar determinadas situações pode ser o "lavar as mãos" das responsabilidades que os indivíduos tem de uns para com outros, de orientar, de oferecer ajuda. Na dimensão humana é fácil e cômodo fechar a questão do julgamento, usando o termo: "Não julgue para que não seja julgado." Mas que tipo de julgamento é feito? De que maneira nos enxergamos diante do julgamento que fazemos aos outros? Essa frase aniquila toda a possibilidade de julgamento ou leva o indivíduo olhar primeiro para seus erros e repará-los? O fato de todo ser humano ser passível de erros é suficiente para refrear a exortação ou desqualificar todo aquele que toma a iniciativa de denunciar os erros clamando por mudança?

"Ninguém tem nada a ver com a vida dos outros" - dizem, e emendam: "Cada um faz o que quer de sua vida, tem o direito de fazer o que bem entende." Mas como assim? Não somos seres sociais e vivemos em comunidade? 

Pelo simples fato de o direito de um começar quando termina o do outro, revela, sim, que temos a ver com a vida do outro. Na verdade, a sociedade vive segundo suas conveniências, e cria mecanismo de sobrevivência, até mesmo para fugir do convencional, do coletivo. Mas esse mecanismo é mais ideológico que acaba interferindo no comportamento social de quem se deixa levar pelo comodismo do óbvio. Não é natural que alguém fique com a mão amarela por comer mamão. Pode haver casos semelhantes, mas não é regra. Não seria o caso um motivo de investigação? Não dá para se contentar apenas com a resposta óbvia. "Se alguém quer fazer de sua vida o que quer, que assim o faça, não seria uma resposta digna para responder ao comportamento de quem se desviou, sob o ponto de vista natural". Alguma coisa pode estar errada e que precisa de atenção profunda. Não dá para aceitar sem entender. Não dá para mudar, se a causa é desconhecida.
Não é preciso ser especialista em nada para aceitar o óbvio, e hoje, parece ovacionado aquele que diz o que aparentemente é uma resposta que acalma os ânimos, mas não passa da superfície. Só quem sofre na pele sabe o que sente. Ninguém será capaz de responder pelo outro de maneira a libertar da dúvida. Fazê-lo aceitar, é a melhor saída para evitar maiores consequências que o encontro com a sua própria verdade pode causar.

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