Já imaginou se o conceito e a realidade do ganho
fosse a perda? E que os reais vencedores fossem os que perdem, não os
que ganham? Se o princípio da riqueza fosse o compartilhamento, não a retenção
de bens? E que vencer na vida consistisse na negação do “ego” em vez de
acentuá-lo pela capacidade e o sugestionamento de competição? E que o verdadeiro vencedor não é aquele que vence todos os obstáculos, mas aquele que sabe respeitar seus próprios limites e reconhecer seu real valor? Diante disso, que
cenário poderíamos visualizar no mundo?
Seria de pessoas plenamente realizadas pelo sentimento de serem úteis umas as
outras, ou de frustração pelo fato de entender que para ganhar é preciso que o
outro perca? Mas o que temos a perder? De que maneira o que temos a
perder nos ajuda a ganhar? Seria a retenção de algo que de algum modo
pudesse ser favorável aos outros pelo simples fato de ser compartilhado?
Talvez não há ganho maior na vida do que a certeza de que
seu pão foi granjeado honestamente sem fazê-lo faltar na mesa do outro; que o
emprego que você conquistou foi pelo espaço aberto ao seu serviço por
mérito e competência, sem o peso na consciência de que sua admissão custou a
demissão de alguém por sua causa; que o teto que lhe abriga não custou o sangue
nem o suor inocente; que sua ascenção ou status não foi fruto da usurpação dos direitos de alguém; que a sua vitória não custou o fracasso dos que também lutaram. Mas há os que mantem a roupagem em ordem apenas para esconder a nudez moral.Há os que são incapazes de despir-se de seus cuidados e interesses para que o manto da justiça o envolvam.
O essencial para a vida é tão natural que não se pode
rebaixá-lo à categoria de “ganho.” Ganhar sugere disputa, enfrentamento,
competição e, em quase todos os aspectos, esse ganho tem caráter unicamente pessoal,
para alimentar o ego, ou para representar um grupo distinto ou uma classe, que
de igual modo entra em competição porque há outros competidores. Que vantagem
poderá trazer a não ser tornar o que se chama “vitória” algo que
depende da derrota alheia?
Os verdadeiros ricos, prósperos e vencedores, talvez não
sejam aqueles que ostentam o ouro e os bens acumulados; pode ser que os
vencedores não sejam aqueles que estamos acostumados ver subir ao pódio, sendo
aclamados pela multidão. Nem sempre a riqueza é vista; nem sempre o vitorioso é
aquele ovacionado em meio ao burburinho de espectadores.
O plano espiritual ensina valores altamente profundos que
foge ao olhar comum, daquilo que estamos acostumados a ver e ouvir.
Enquanto muitos estavam preocupados com as coisas da vida, o
que ganhar, e o que poderiam perder, Jesus chamou a atenção dizendo:
“Por que
vocês estão preocupados com a sua vida, com o que vão comer ou beber?
Olhe as aves do céu que não plantam e não colhem, mas o Pai Celestial as
sustenta. Vocês não valem mais do que as aves?”
No plano de Deus, perder é ganhar (S. Mateus 16).
Quando nos apercebemos desse conceito e vivemos de acordo com
essa sugestão, deixamos a mesquinhez para aproveitar, de fato, a grande
riqueza da vida. Somos menos egoístas e o altruísmo começa a fazer efeito
em nós, porque passamos a entender que há algo infinitamente maior do que a
nossa maior necessidade ou querer à nossa disposição, enquanto que as
preocupações e as disputas pelo pedaço de pão ou de terra que queremos reter
faz com que sejamos perdedores pelo desconhecimento de que nossa força é tão
limitada, que não podemos acrescentar um dia em nossa existência.
Certa vez um jovem estagiário em início de trabalho numa
empresa foi solicitado pelo chefe para ir ao bar da esquina comprar-lhe um
cigarro.
O jovem negou-se a comprar cigarro para o chefe, dizendo a ele que não o faria por seus princípios, explicando que o mal que não quer
para si, não deseja ao outro, e não gostaria de ser colaborador do mal que o
cigarro poderia causá-lo. O rapaz foi informado depois nos corredores que ele não
deveria ter feito isso porque comprar cigarro era algo que todo estagiário no primeiro
dia de trabalho era solicitado a fazer e ninguém ainda havia se negado a fazer
o "favor" para o chefe.
Ao ser chamado no outro dia o jovem temeu pelo pior, mas o
chefe olhando firmemente para ele disse que a atitude do rapaz o havia marcado
muito, pelo fato de ter negado algo ao seu superior, mesmo correndo o risco de
desagradá-lo.
Quando não temos medo de perder, é que demonstramos ser que somos vencedores, mesmo sem entrar numa competição. É estarmos conscientes de nossos atos e agirmos em conformidade com a nossa consciência, sem passar pela
nossa cabeça que tal atitude poderia nos tirar
o conforto, o emprego, o dinheiro. Somos vencedores quando não abrimos
mão de nossos princípios para dar lugar a justiça e a honestidade.
Isso significa deixar de pensar em nós mesmos como o centro,
mas como parte do todo que precisa funcionar adequadamente, mesmo que essas
ações tornem dividido o sistema do qual participamos. O desajuste torna-se o ponto de equilíbrio, onde podemos observar que nem tudo está perdido. É um
ponto de referência onde se percebe que o serviço em favor próximo ou do grupo
do qual fazemos parte é o princípio da conquista em todos os segmentos. “É ajudar a carregar as cargas uns dos
outros.”
É importante sabermos o que podemos perder, para sermos
grandes ganhadores. De que precisamos abrir mão, para vencer o nosso próprio
egoísmo e amor próprio exagerado, capaz de cegar a compaixão. É importante
sabermos, o que podemos deixar ir, para que sobrevenha a nós a riqueza da
operação do invisível, manifestando uma vida de fé e confiança não naquilo que
vemos, mas no que não vemos e que há de vir.
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