Talvez não há coisa tão pior
quanto escolher o "duvidoso"
porque o certo fracassou. Mas o que é
certo? E o que é duvidoso?
Quem pode ter certeza de que a
semente que plantou vai nascer? Na verdade, não temos interferência no processo
de germinação de uma semente, mas a nossa parte é cuidar da base, da estrutura,
do solo onde essa semente vai ser plantada. Precisamos conhecer o berço onde
essa semente será cultivada.
As escolhas que fazemos nem
sempre são guiadas pela certeza, mas por hipóteses levantadas por nossas
percepções e observações do meio ambiente. São sugestões externas que acabam
interferindo em nossas posições e olhares. As hipóteses nos levam ao erro com a
mesma chance de nos levar ao acerto. Mas é possível que as experiências vividas
e a maneira como somos capazes de
avaliar os aspectos envolventes nos ajude a tomar decisões menos arriscadas sob
o ponto de vista das suposições, ou até mesmo dos resultados explícitos.
De algum modo na vida, estamos
sempre escolhendo. As vezes escolhemos o desconhecido e é natural
que duvidemos daquilo que não conhecemos.
É possível que o certo de hoje era o duvidoso de ontem, no momento em
que experimentamos, comparamos e assumimos.
E este certo quando deixa de corresponder à proposta pela qual
originou sua conquista, torna-se
consequentemente indesejável. Assim se renova as expectativas por outro
proponente. É um círculo vicioso do qual não nos livramos, pois a vida está em
constante movimento e essas mudanças sugerem acompanhamento, exigem percepção
dos fatos. Assim, o ser humano parece insaciável.
Quando se trata de questões
políticas administrativas, a frase “não troque o certo pelo duvidoso” é
muito utilizada por aqueles que se mostram contentes ou de certo modo
realizados pelo trabalho exercido, sem perceber que antes de ter a oportunidade
de mostrar serviço, seus antecessores diziam a mesma frase.
Apesar de na política a população
entender que o mandatário precisa ser alguém confiável, honesto e de um passado
honrado, no âmbito do poder, essas características são sobrepostas em muitos
casos por manobras e negociações para a árdua tarefa de administrar conflitos
de interesses. O sistema está pronto. Ainda que com capacidade de diálogo e
negociações a tarefa do executivo nem
sempre é exercida da maneira como tal gestor se propôs a trabalhar. O respeito
às diferenças e a maneira de lidar com as diversidades e as adversidades por um
lado pode trazer certa harmonia para o funcionamento da máquina, mas por outro
lado, essa máquina pode não sair do lugar; pode não haver avanço e pôr a perder a esperança daqueles que foram
atraídos pelo discurso da mudança e da novidade porque os interesses internos
são mais fortes e que muitas vezes tornam as ações mais amplas em favor da
coletividade reféns de um sistema vicioso.
Essa é uma realidade dura que
enfrentamos em nosso país. O que importa muito nessa questão é, que ligação
direta tem o mandatário no sentido de viabilizar essas ações que depõem contra
as estruturas democráticas e que participação tem ele como agente
administrativo na desconstrução do princípio da moralidade, da honestidade e
verdade, mesmo sendo “bombardeado”, e arriscando sua representatividade e permanência no cargo.
As manobras que visam apenas a manutenção de certos grupos no poder são, sobretudo, um risco à soberania Nacional
e a democracia, reduzida a questões de interesses classistas ou partidários. O
problema não é a corrupção como uma realidade, mas como o Chefe de Estado se
impõe diante dela. O problema não é o jogo político, mas que tipo de peça o
Chefe de é no “tabuleiro.” É preciso
prestar atenção nos sinais, não daqueles que estão nos bastidores, mas daqueles
que se apresentam como a solução, a figura que responde pela Nação, pois é
sobre estes que recai a cobrança e a responsabilidade. Os desgastes por
questões mal resolvidas ou encobertas, recaem principalmente sobre o chefe
maior. Se avaliarmos que no âmbito
do poder todos são iguais, poderemos, com isso, viver sempre na dúvida e
canalizar essa desconfiança para ações que não levam à mudança, pelo menos por
um período de tempo. De que maneira nossos políticos acusados tem se mostrado
diante das acusações? De que maneira tem
lidado com as denúncias e se comportado diante de revelações desastrosas de sua
administração? Até quando podemos aceitar o discurso defensivo da
responsabilidade compartilhada, sem que nenhum
sinal de combate aos erros sejam
vistos, antes, colocando em dúvida o papel desempenhado pela justiça que
condena os membros de seu governo?
A população precisa estar
esclarecida a respeito dessas questões e o governo precisa ser transparente
para que o que era certo, não traga dúvida suficiente para levar a outras
escolhas duvidosas. Assim o ciclo se repete. Isso ocorre quando se perde a confiança. E um povo desconfiado torna-se vulnerável e
imprevisível em suas ações. Porque por um lado, o que importa para o povo não é
o que realmente quer, pois o querer é provocado, e continuar querendo depende
da resposta que o povo espera. Neste
ponto, nasce o desejo de não querer mais. É assim que a mudança se torna uma
necessidade circunstancial. A necessidade de mudança acontece por desencanto ou
descontentamento quando diante de uma promessa não cumprida, a expectativas
frustradas quando se relaciona a uma espera que depende da resposta de outros.
Mas também ocorre por questões pessoais, por erros cometidos e o interesse de fazer
diferente. Mudar não é de todo ruim. Mas é sempre um novo desafio e requer disposição
para enfrentar novas expectativas e isso sempre fez e fará parte de nossa
história. E não é mudar por mudar. É preciso haver propósito. Mudar muitas vezes é doloroso, mas compensa pela disposição e empenho
no processo seguinte, pois sair da zona de conforto leva a conflitos que exercem
um papel importante no amadurecimento pessoal e na segurança individual pelo
conhecimento de seus limites e suas conquistas.
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