“A boca fala do que o
coração está cheio”. Esta afirmativa bíblica pode nos levar a
refletir se somos, de fato, verdadeiros em nosso discurso. Se falamos da maneira como procedemos. A frase “Faça o que
eles falam, mas não faça o que eles fazem”, aponta que nem sempre a boca
expressa realmente o que se sente no coração, nem sempre expressa as verdadeiras
intenções seja de que lado for. Podemos usar boas palavras e um bom discurso,
mas de maneira tendenciosa com o objetivo de que nossa mensagem seja aceita por
sua beleza e poder de persuasão.
Há muitos que dizem o que não querem dizer, assim como muitos
dizem exatamente o que querem que os outros saibam. Há muitos que são levados a
refrear seus ímpetos e camuflar suas reais características para atenderem
apenas a um comando, dentro de um contexto social. No fundo, o sentimento de
desajuste como algo mal resolvido e uma espécie de conflito silencioso, acaba tornando a relação pesada e desconfortável, na tentativa de provar aos outros a todo tempo, que ele é o que requisitam de si, não o que é de fato.
Mas no aspecto cultural da educação, aprendemos que devemos
ser maleáveis; falar a verdade com jeitinho,
cuidar com o tom da voz, as expressões corporais entre outros aspectos que
fazem parte do conjunto da comunicação interpessoal. Se considerarmos esses
conselhos - não como fruto de um sentimento primário de amor ao próximo, mas
como uma mera presunção por obter resultados pelo convencimento de que tivemos
sucesso em nossas investidas - naturalmente
que em nós mesmos, diante do espelho da alma, estaremos em débito com a
verdade.
A linguagem da comunicação é importante, mas o mais
importante é acreditar no que estamos transmitindo, não apenas por ser
conveniente sob o ponto de vista das boas relações, mas de que maneira nos
relacionamos, por dentro, com aquilo que transmitimos.
Há um desafio muito intenso para que as pessoas sejam aceitas
como são. As questões culturais e familiares exercem influência direta sobre a
forma como seus membros se relacionam fora do ambiente costumeiro. Nem sempre
devemos esperar que os outros nos comuniquem da maneira como esperamos, sob o
ponto de vista do cuidado com as palavras; dos tons grosseiros ou de mal gosto.
Neste caso, a reação é naturalmente de repulsa no aspecto convencional. Muitos
se sentem magoados e atingidos por essas “agressões” verbais. Mas além de
desenvolvermos a comunicação respeitosa com o próximo,
precisamos criar em nós certa imunidade para que palavras “agressivas” não nos
agridam. Isso não significa desconsiderar o que é dito, mas tentar entender por
que foi dito e de que fonte veio. É importante entender que nem sempre
recebemos de volta o mesmo tratamento que oferecemos. Aquele que consegue se
entender, sem discriminar os demais por sua maneira diferente de agir, antes,
desenvolvendo espírito de compreensão, possibilita a si mesmo acessar o
indivíduo com dificuldade de relacionar-se e estabelecer uma comunicação menos
traumática.
Se por um lado “a boca
fala do que o coração está cheio” – pode nem sempre ser a verdade do que
dizemos e sentimos. Há outro aprendizado que devemos obter. O coração pode ser
mudado com o entendimento sobre a maneira distorcida como aprendemos a nos
comunicar com base em nossas raízes e cujo comportamento se manifesta em nossas
atitudes. O sentimento harmonizado entre o que pensamos, falamos e agimos,
torna a nossa linguagem pura tal como somos de fato. Julgar menos, informar-se mais; demonstrar interesse
pelo outro e entender os pontos de suas limitações pode ser o começo para
conhecer e fazer-se conhecido. Os mal entendidos ocorrem, em muitos casos, pela
mensagem transmitida sem clareza, ou entendida segundo os julgamentos que
fazemos, segundo o que interpretamos, de acordo com os nossos conceitos ou
preconceitos. O importante é buscar o entendimento, perguntando no sentido de
elucidar o que é necessário, evitando o confronto de maneira agressiva como uma
forma de defesa.