quinta-feira, 22 de outubro de 2015

A MELHOR DEFESA É RESPONSABILIZAR-SE

        
Aprendemos que a melhor defesa é o ataque. É um pensamento comum que permeia gerações. Aprendemos a nos defender atacando algo ou alguém que consideramos inimigo ou alguma situação que nos ameaça. Não é raro um errante apontar os erros de outros errantes como uma arma para minimizar sua responsabilidade. Apesar de mostrar a corruptibilidade humana, aponta também a malícia dos que deliberadamente decidem aproveitar o ensejo ou as brechas, ou as condições favoráveis para que o caráter de cada indivíduo se manifeste. O avô de um velho amigo disse certa vez: “A ocasião não faz o ladrão, apenas o revela.”
       Assumir responsabilidades é, em muitos casos, “colocar o pescoço na guilhotina” ou acabar com uma carreira profissional ou política, ou expor-se à vergonha. É preciso dignidade para tal atitude. A zona de conforto da posição e dos cargos assumidos parecem pesar na hora em que a verdade se defronta com o errante, e a negativa parece ser a saída mais óbvia. Apesar de os erros fazerem parte de um contexto com o envolvimento de outros agentes, é preciso que o desencadear do desastre moral partir de um ponto central, de um núcleo, principalmente de quem tem maior poder de liderança. Ainda assim nenhum indivíduo está isento de suas responsabilidades, ainda que justifique seus erros pela pressão de um grupo. Se existe essa consciência, o erro se torna uma escolha deliberada.
      Tive uma experiência no início de carreira como locutor noticiarista de uma emissora do Rio de Janeiro. Era um jovem principiante com 17 anos de idade. Pouco antes de ler o boletim de notícias no ar, passei na sala de redação para pegar as laudas. Durante a leitura no ar, pronunciei uma palavra com erro de grafia e o diretor de jornalismo me chamou para perguntar o que havia acontecido.
-Estava escrito daquele jeito! – disse. – Não foi erro do redator? – inquiri.
-Sim – respondeu. Ele ainda acrescentou:
-Elias, vou lhe dizer uma coisa que vai servir para tudo na sua vida, não só nesse caso. Nosso trabalho é feito em equipe, mas a responsabilidade é individual. O redator errou, sim, mas você deve ler o texto antes de ir ao ar.
Vivemos numa sociedade em que poucos escolhem assumir suas responsabilidades. Cada qual torna-se advogado de si mesmo, apontando o erro alheio. Isso tem sido comum no cenário político e se tornou um comportamento “epidêmico” em toda a sociedade, abrindo brechas para a inversão de valores. Errado é sempre quem cobra explicações daqueles que no exercício de suas atividades não cumprem devidamente seu papel. Explicam seus desmandos, erros e desastres a fatores externos. E assim caminhamos em rumo incerto. 


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