Assumir
responsabilidades é, em muitos casos, “colocar o pescoço na guilhotina” ou
acabar com uma carreira profissional ou política, ou expor-se à vergonha. É
preciso dignidade para tal atitude. A zona de conforto da posição e dos cargos
assumidos parecem pesar na hora em que a verdade se defronta com o errante, e a
negativa parece ser a saída mais óbvia. Apesar de os erros fazerem parte de um
contexto com o envolvimento de outros agentes, é preciso que o desencadear do
desastre moral partir de um ponto central, de um núcleo, principalmente de quem
tem maior poder de liderança. Ainda assim nenhum indivíduo está isento de suas
responsabilidades, ainda que justifique seus erros pela pressão de um grupo. Se
existe essa consciência, o erro se torna uma escolha deliberada.
Tive uma
experiência no início de carreira como locutor noticiarista de uma emissora do
Rio de Janeiro. Era um jovem principiante com 17 anos de idade. Pouco antes de
ler o boletim de notícias no ar, passei na sala de redação para pegar as
laudas. Durante a leitura no ar, pronunciei uma palavra com erro de grafia e o
diretor de jornalismo me chamou para perguntar o que havia acontecido.
-Estava escrito daquele jeito! – disse. – Não foi erro do
redator? – inquiri.
-Sim – respondeu. Ele ainda acrescentou:
-Elias, vou lhe dizer uma coisa que vai servir para tudo na
sua vida, não só nesse caso. Nosso trabalho é feito em equipe, mas a
responsabilidade é individual. O redator errou, sim, mas você deve ler o texto
antes de ir ao ar.
Vivemos numa sociedade em que poucos escolhem assumir suas
responsabilidades. Cada qual torna-se advogado de si mesmo, apontando o erro
alheio. Isso tem sido comum no cenário político e se tornou um comportamento “epidêmico”
em toda a sociedade, abrindo brechas para a inversão de valores. Errado é
sempre quem cobra explicações daqueles que no exercício de suas atividades não
cumprem devidamente seu papel. Explicam seus desmandos, erros e desastres a
fatores externos. E assim caminhamos em rumo incerto.
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