Por mais "em paz" que estejamos, não estamos longe de conflitos e tragédias humanas e isso nos afeta e comove. Mas é preciso ir além disso.
É um grande alívio quando há certeza de que aquele acidente não afetou seu parente.
Que aquela notícia que alguém lhe passou a respeito do desastre estava equivocada, e o que parecia um grande
drama, deu lugar ao riso de alegria e abraços de comemoração. É preciso ter grande cuidado e cultivar uma maturidade espiritual para que a esperança não nos torne pessoas frias, achando que tudo é assim mesmo, e que a vitória é lá no fim. Como pode, por exemplo um pastor de igreja dormir tranquilamente, sabendo que um membro de sua igreja foi para a cama sem poder dar de comer a seus filhos? Precisa ter "inteligência emocional." É isso que a psicologia moderna ensina?
É um
grande alívio quando aquele ônibus que você perdeu e o deixou irritado por não
tê-lo alcançado, não chegou ao seu destino; quando a enchente que passou
arrastando tudo perto de sua casa, passou longe de seu portão. Mas,
quem foi mesmo a vítima que se acidentou? E aquela família que teve que sair às
pressas da casa invadida pela água da enxurrada? E a família que aguarda a
confirmação dos nomes da lista de passageiros que foram internados no hospital?
Comemora-se
quando o alarme é falso. Quando o diagnóstico está errado; quando o telefonema
avisando o sequestro do filho era um
trote. Comemora-se porque o amor que une a família naturalmente é centrado ao núcleo familiar, ao círculo de
amizades. É natural as pessoas serem afetadas diretamente naquilo que tem
relação com seus interesses.
Mas
ao considerar o fato de que todos
somos parentes, do mesmo modo
comemoramos o alívio do outro. A dor que dói no outro, também dói em você. Mas
há os que perdem a sensibilidade a tal ponto
que não conseguem se tocar nem
com o sofrimento, nem com a alegria dos que estão a sua volta. Seria isso
normal?
-Mas olha como está o seu amigo, cheio de hematomas pelo corpo, disse
o repórter de uma rádio local ao homem na sala da delegacia de polícia.
-Comigo não aconteceu nada, respondeu de
imediato ao repórter.
Os dois haviam acabado de escapar pulando o
muro da clínica psiquiátrica onde estavam internados. Recolhidos pela polícia,
aguardavam a chegada do responsável por eles na delegacia para depor e
liberá-los.
Curiosa a resposta daquele paciente
psiquiátrico ao repórter: “comigo não aconteceu nada.” Sim, havia o que se
comemorar. Mas o companheiro de fuga dele estava machucado.
Será que é loucura pensar assim? Passar
adiante, mesmo percebendo que alguém, no canto da rua se queda? Manter os
passos velozes pela pressa, e muitas vezes fugir de situações que não quer
enfrentar? Assistir o sofrimento alheio, ao mesmo tempo em que diz: “comigo não
aconteceu nada?”
Os extremos são perigosos. Tanto não se solidarizar com o sofrimento do
outro, quanto abalar-se demasiadamente. Mas ninguém tem um botãozinho
liga/desliga para acionar ou neutralizar as emoções. O que vale agora é a
reflexão no momento em que aparentemente está tudo normal. O que você pensa a
respeito disso? É exatamente o que vai se manifestar na hora do enfrentamento
da situação. Ao fazer uma simulação mental a respeito de alguma possibilidade,
imagine-se na cena construída. O que você visualiza é o que assimilou e que provavelmente
será refletido em sua reação.
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