O menino andava por toda a sala. Visitava carteira por carteira, falando como que cochichando algo ao ouvido dos colegas, sem querer ser notado. Mas era impossível, pois era momento de explicação da matéria de matemática e só ele circulava entre os corredores que dividiam as cadeiras.
A professora, incomodada com o gesto do garoto, mandava-o voltar para o seu lugar e fazer sua tarefa.
Ao ouvir a professora chamar sua atenção, rapidamente, com expressão assustada, sentou-se em sua carteira.
Algo muito estranho estava acontecendo. O menino não conseguia se concentrar. Estava inquieto, como se estivesse insatisfeito por não ter falado com todos os seus colegas de classe. Ele mexia as pernas, batia o pé; coçava a cabeça com um ar desesperado, quando mais uma vez se levantou, no momento em que a professora tentou interrompê-lo:
- Volta pro seu lugar! - ordenou.
O menino estava decidido quando novamente se dirigiu aos últimos colegas aos quais deixara de dar seu recado anteriormente.
-O que está acontecendo com você? O que tanto cochicha no ouvido de seus colegas – pergunta a professora com dedo em riste e tom de voz firme.
Quem poderá penetrar o universo do pensamento infantil? |
Caminhando devagar em direção a professora, com olhar fixo, o menino chega perto dela e diz:
-Agora eu posso falar com a senhora – disse com voz trêmula, embargada pelo choro preso na garganta, mas que seus olhos não negavam ao lacrimejar-se.
– Eu estava pedindo aos meus colegas que orem pela minha mãe. Aqui na escola vocês não dizem que Deus atende a oração das crianças? Foi por isso pedi aos meus colegas que orem pela minha mãe.
– Eu estava pedindo aos meus colegas que orem pela minha mãe. Aqui na escola vocês não dizem que Deus atende a oração das crianças? Foi por isso pedi aos meus colegas que orem pela minha mãe.
A professora se sentiu muito tocada naquele instante. Não sabia o que fazer. Ela não havia entendido o que o menino pretendia no momento em que circulava pela sala visitando as carteiras de cada colega.
- Vou orar também – prometeu ela, perguntando o que se passava com a mãe do menino.
A mãe do menino é dependente alcoólica e sempre que bebe fica muito agressiva. O pai dele já foi embora de casa; sua avó também já não suportando mais o ambiente que se instalou na família, decidiu ir embora, assim como foi seu filho.
-Minha mãe bebe álcool, professora. E quando ela bebe, tenho que ir para a casa de minha vizinha. Não tenho quem cuide de mim nos momentos de crise dela.
Talvez esse não seja um caso isolado. Quantos filhos há que enfrentam situação como esta dentro de casa? Talvez o sofrimento que esse menino de quase dez anos de idade está passando o tenha amadurecido a ponto de buscar ajuda e não se acuar diante desse drama tão fatal. Mesmo diante da agressividade de sua mãe ao alcoolizar-se, ele pede por ela. Que ela não beba mais, porque não deseja que sua mãe vá embora como fez seu pai e sua avó e o deixe sozinho.
Que bom saber, que no ciclo de relacionamento escolar, essa criança pode interagir, desabafar seus dramas e que por outro lado, infelizmente, quantas crianças há que sofrem a sós em seu universo, trancando-se em seu mundo, perdendo as perspectivas de um futuro diferente, construindo traumas e alimentando o medo que lhe furta o direito de ser feliz.
Que bom saber, que no ciclo de relacionamento escolar, essa criança pode interagir, desabafar seus dramas e que por outro lado, infelizmente, quantas crianças há que sofrem a sós em seu universo, trancando-se em seu mundo, perdendo as perspectivas de um futuro diferente, construindo traumas e alimentando o medo que lhe furta o direito de ser feliz.
Nem sempre os adultos que fazem parte desse universo paralelo, que é o universo infantil, podem entender cada olhar e cada gesto de uma criança. Mais do que tentar corrigi-los em suas atitudes, vistas de maneira contrária ao convencional, é preciso parar para ouvi-los, perguntar o que sentem e o que pensam. Quem sabe assim, um braço de ajuda poderá ser estendido para que os pequeninos reconstruam a chance de ser feliz.
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