sábado, 24 de novembro de 2012

ORAÇÃO AO ENTARDECER



Senhor,

Hoje eu acordei pela manhã e reclamei da cama onde descansei, e do teto que me abrigou.
Mas quando saí para o trabalho, ao observar nas calçadas,
Vi uma família inteira debaixo da marquise de uma loja, deitada sobre papelão, enrolada em cobertores velhos.
Perdoe-me, Senhor.
A vida que me deste, a ti pertence.

Ao sair para o almoço, reclamei do tempero da comida e do preço que paguei no restaurante;

Mas ao sair, vi um homem revirando a lata de lixo a procura de restos de comida;
Atravessei a  rua em frente a um supermercado, uma senhora de mão dada com uma criança, contava com dificuldade as moedinhas que tinha para comprar um quilo de arroz.

Eu te peço perdão, Senhor.
Eu xinguei quando tropecei e quase caí no ressalto de um degrau;
Quando olhei para trás vi um cadeirante sendo levado por alguém, que com muita dificuldade tentava subir numa calçada;
De volta para casa vi uma perseguição policial; um rapaz corria com uma bolsa na mão que acabara de roubar de uma mulher...
E eu torcia para que o policial o alcançasse. 

Quem era aquele rapaz? De que família ele era? Quem era aquela mulher desesperada ao ser roubada?

Quando cheguei  em casa eu queria paz;
As crianças brincavam e corriam ao portão, gritando, correndo felizes com os braços abertos para me receber de volta. Mas eu estava muito cansado e nem dei atenção;

Quando liguei a televisão,
Uma mãe aflita falava ao repórter que o marido foi atingido por uma bala perdida quando voltava para casa e seus filhos em prantos...

Comecei a refletir sobre as cenas que vi e tudo o que vivi neste dia...
Percebi que em todo o momento fui egoísta, só pensei em mim e nada fiz por ninguém. Queria justiça, amor, paz... mas fui injusto, impaciente, intolerante.
Perdoe-me, Senhor,  por, mesmo conhecendo sua palavra, cair em tentação.
Percebi o quanto fui ingrato quando reclamei da minha casa e da minha cama;
E me veio à mente como um filme, aquela família deitada na calçada;
Lembrei-me que quando viestes  aqui, Senhor, não tinhas onde reclinar a cabeça, nem casa, nem bens e, ao morrer,  seu túmulo foi-lhe emprestado; mas o Senhor ressuscitou para me mostrar o que é mais importante nesta vida. 

Quero deixar de olhar só para mim mesmo; quero deixar de pensar só no que sofro, mas quero ter a sensibilidade de sofrer com os que sofrem. Quero aprender a chorar com os que choram; quero olhar para ti, que vê cada um como filho seu,  e que seja o meu dever fazer ao meu semelhante o que fizeste a mim.

Quero que me dê espírito de gratidão, não para que eu não me veja erroneamente como melhor que os outros; mas para que com o pouco mais que me destes eu seja útil ao meu semelhante. Quero ver a tua face em cada irmão, em cada pessoa que eu conhecer. Quero tratar a cada um como tu o farias; perdoar como me perdoastes. Amar como me amastes.

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