quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

OS 180 SEGUNDOS

Se olharmos apenas as limitações e circunstâncias adversas que envolvem  a  jornada, o empecilho para a persistência pode estar a caminho.


Nos tempos da velha máquina de datilografia
Em 1987, eu  já ensaiava meus primeiros passos numa emissora de rádio, no mesmo momento  em  que trabalhava no serviço de alto falante do seu Zezinho de Austin, distrito de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense - RJ. Aliás, ali foi o meu berço profissional. Seu Zezinho, mineiro de Manhuaçu, era um homem prático, simples, de uma maturidade e sensibilidade  ímpar  no que fazia, e  conseguia passar muito bem o que sabia. Católico  praticante, demonstrava muito respeito pela religião, pela família e os valores morais e espirituais. Não me esqueço o que ele dizia: "Se em cada esquina tivesse uma igreja, creio que teríamos uma sociedade melhor".

“O Despertar da Consciência” era o nome do programa apresentado pelo maestro e escritor Matias de Oliveira, que me deu oportunidade de participar com um quadro dentro de seu horário, pois ele havia sido informado por pessoas próximas, do grande interesse que eu demonstrava pela comunicação e o sonho de trabalhar no rádio. À época, Matias era um jovem músico, pesquisador dos grandes questionamentos da humanidade quanto à sua origem e destino. Ainda jovem, morreu de um ataque fulminante do coração, deixando esposa  e  três   filhos pequenos.


Estúdio da Rádio Solimões - 1990
Já contratado como noticiarista

Nesse programa, eu apresentava uma espécie de crônica de minha autoria; outras vezes, artigos sobre saúde, comportamento, etc.  Eram três minutos de participação, que me renderam votos de sucesso da parte dos que me acompanhavam, dos meus pais e de toda a família.


Depois de quase uma hora dentro de conduções para chegar à Rádio Mauá Solimões, aqueles 180 segundos no ar significavam muito para mim, coisa que eu levava muito à sério. O programa era sempre ao vivo, às vezes acompanhado do auditório da emissora por vários convidados, com início às 21h.

Quase dois anos depois, aos 17 anos de idade, adentrava o estúdio da mesma rádio com várias laudas na mão, ainda redigidas com as velhas máquinas de datilografia e uma responsabilidade ainda maior, de apresentar o principal noticiário da emissora. Foi  no dia 20 de março de 1989, que a luz vermelha do estúdio se acendeu para mim, sinalizando que eu já estava no ar.  Era o “Informativo Solimões”um resumo das principais notícias do Brasil e do Mundo, como era anunciado pelo locutor padrão na abertura do noticioso. O jornal era patrocinado pela renomada  empresa química multinacional, a Bayer do Brasil.  Apoiado e acompanhado pelo chefe de Jornalismo, Fernando de Souza, me sentia seguro, pois com a muita experiência que  tinha, não me deixava desistir, quando os erros e tropeços me cercavam os caminhos da leitura, pois dizia ele acreditar em meu “potencial”. Tornei-me desde então, o segundo locutor noticiarista da emissora. Fernandel foi um grande professor, de larga experiência em veículos de comunicação tradicionais do Rio de Janeiro como a Rádio Continental; Tupi; Mayrink Veiga, entre outras emissoras. Era um mestre no  improviso pois era dotado de grande cultura e bem informado em quase todos os temas que se levantasse em debate. Aliás, era ele muito requisitado para os programas de debate da emissora.

Com muita simplicidade, sem ostentar a vaidade de seu status, seu prazer era dividir suas experiências com os novatos. Vivi um momento em que os iniciantes na carreira tinham respeito e grande interesse em ouvir o que os mais experientes tinham a compartilhar. Eu via alegria nos olhos do Fernando, quando falava de suas experiências, fazendo aplicações práticas para estudantes de jornalismo que iam à emissora para fazer pesquisa.

Fernandel morreu em 2006, depois de passar por longo período de depressão, ao deixar os microfones depois de sua aposentadoria e não resistiu a uma forte pneumonia.


Elias Teixeira - 1996 
Mais tarde, em 1991, na mesma emissora, ganhei um horário de apresentador, onde comecei o programa “Elias Teixeira & Você”. Era um programa de temática social e de aplicação religiosa. Nele eu tive a oportunidade de lançar vários cantores da música evangélica - nos tempos em que as FMs gospel estavam iniciando suas atividades no Rio de Janeiro - além de apresentar temas variados de debates e reflexões, bem como promoção social. Pessoas necessitadas procuravam o programa em busca de ajuda; cantores me procuravam para promoverem seus discos. E todos eram atendidos. O rádio precisa funcionar como uma via de mão dupla. Não é só dos microfones para fora, mas de fora para os microfones. Esse dinamismo que crescia à medida que a engrenagem funcionava, fazia crescer também a satisfação de ver o resultado do trabalho, na prática.


O tempo passa - os objetivos continuam
Tudo começou com apenas três minutos. Hoje, considero que não importa o tamanho da oportunidade que se conquista, ou o espaço de tempo que se tem para viver. O que importa, de fato, é a oportunidade. Quando o trabalho é feito com amor e verdade, focado no presente, o resultado não pode ser outro. Talvez se olharmos apenas as limitações e circunstâncias adversas que envolvem  a  jornada, o empecilho para a persistência pode estar a caminho.

Creio que é preciso aprender em todos os momentos, observando, respeitando, construindo a cada passo o caminho pelo qual queremos trilhar, conscientes de que atrás de nós vem sempre alguém, e que, à nossa frente,  alguém também  já construiu seu  próprio caminho.




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