sábado, 3 de março de 2012

A MALDIÇÃO HEREDITÁRIA


Ele procurou um especialista para descobrir o porquê de sua obesidade. Chegou aos 160 quilos, o que lhe causava grande sofrimento físico e emocional. O especialista adiantou que, em muitos casos, a obesidade pode ser uma doença de causa hereditária, passando de pai para filho. Explicou-lhe que se seu pai ou sua mãe teve a doença, ele teria uma predisposição também à doença.

E afirmou: as células de gordura se formam no 3º mês de gestação. A alimentação da gestante nesse período de multiplicação das células pode determinar o problema que pode durar por toda a vida.  

Quem haverá de quebrá-la? 


E era verdade. Sua família tinha um histórico de obesidade, até mesmo pelo estilo de vida; o hábito alimentar, etc. O jovem cresceu nesse ambiente e, o hábito alimentar da família parecia algo normal para ele.

Mas, a partir do conselho médico, decidiu mudar o estilo de vida, os hábitos alimentares, praticar atividade física. Isso ajudou em sua perda de peso. Mas teria que se policiar para que a tendência que ele trazia naturalmente, não interferisse em sua vontade de mudar.

A questão de  “maldição hereditária”  parece ser um “fantasma” que assusta muita gente, e é um tema muito discutido no âmbito espiritual, como se fosse algo demoníaco, diabólico.

É possível que sob o ponto de vista prognóstico sobre a situação presente, alguém tenha chance de acertar como pode ser o futuro de alguma outra  pessoa, se continuar fazendo o que faz. É provável que a declaração desastrosa ou negativa  ou  a afirmação que se faz a respeito do outro não seja o que se chama “rogar” praga, que não uma constatação óbvia do que se percebe no presente, caso o indivíduo não mude de atitude. Por outro lado, o  mal  desejo  que alguém tenha do outro não se consolida, se não por uma decisão ou escolha de quem é mal desejado.  A “maldição” proferida por pai ou mãe, ou de outrem contra alguém,  talvez seja mais por uma ação de revolta por um ato que os desagradou, do que por um “ praguejar” que se materializa na vida desse alguém. Todo o mal desejo leva em consideração a situação presente da vida de uma pessoa, não a possibilidade que ela possua de mudar de rumo.   Mas há um outro lado a ser observado sobre este mesmo assunto. Há questões que podem ser mudadas a partir da mudança de hábito ou de comportamento, das decisões que tomamos. Mas sobre questões de "deformidades" ou algo estrutural que não tem a ver com nossas escolhas,  não temos como mudar, a não ser criar mecanismos para a convivência com essas questões. 

"Pode o Etíope mudar a cor da sua pele ou o leopardo suas manchas? Assim, mesmo tendo a tendência ou vontade de fazer o mal, você pode fazer o bem".  (Jeremias. 13:23). Isso é uma questão de escolha individual, que não tem o poder de mudar sua "estrutura". mas definir o alvo de sua vontade. 

Há coisas na vida que não temos o poder de decidir
até  que não tenhamos consciência do que queremos. 

Já nos acostumamos com a idéia religiosa de que, se alguém passa por maus momentos na vida, talvez tenha comedido grave pecado. Não podemos levar em conta essa declaração como uma fórmula exata. É bem verdade que todo o erro que se comete, traz suas consequências – e pecar é errar o alvo – na essência da palavra. É nesse caso que se respalda o argumento de que determinado sofrimento de alguém tenha essa causa definida.


Por outro lado, o que dizer do sofrimento do jovem que sofria de obesidade por um mal que herdou dos pais? Ou daquele homem ainda na flor da idade que descobriu um câncer e, soube depois, que seu avô havia morrido com a mesma doença?

Quase tudo que sofremos tem a ver com o ambiente em que habitamos; o meio em que vivemos; os fatores genéticos; até mesmo as interferências culturais em nossas escolhas.  É possível entender que no passado houve um fator determinante para o “disparo” desse gatilho que atingiu todo o planeta com suas deformidades. É um caso irreversível. Houve um desencadear de elementos que contribuíram para o desenvolvimento do mal que sofremos,  sobre  o  qual  perdemos o controle. Gênesis 3:17: "...maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias de tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá, e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste formado; porquanto és pó, e em pó te tornarás. 

Deus tem o controle sobre a vida, não responsabilidade sobre suas deformações oriundas das decisões humanas; Ele sugeriu um destino para todos, porém não interfere nas escolhas individuais.  A quebra da estrutura perfeita com  a qual o planeta e o homem foi criado poderá ser restaurada pela decisão individual, assim como foi por uma escolha que a degeneração começou a operar, mas as marcas ficarão. O arrependimento e nossas boas escolhas não apagam as consequências e as marcas que provocamos ou que foram provocadas em nós. Com elas, poderemos conviver durante toda a vida, até que tudo passe - o mundo e as coisas que no mundo há. Haverá uma transformação e retorno às origens com a intervenção do reino de Deus. ( I Cor. 15:53-55 )  -  "Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é  mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está ó morte, o teu aguilhão? Onde está ó inferno, a tua vitória?

Certa vez um menino perguntou ao pai: - Que  culpa eu tenho do pecado de Adão e Eva? Por quê eu tenho que pagar por um erro que eu não cometi?  

A análise do menino é correta, porém, se se encerrasse neste ponto, estaríamos todos perdidos definitivamente. De fato, não podemos cruzar os braços, esperando que o mal do qual podemos fugir recaia sobre nós, sem que tomemos a decisão para que a maldição não seja multiplicada por nosso intermédio. É possível que entendamos que se, fomos criados para sofrer, e sofremos, nada então poderíamos fazer, pois estaria tudo ocorrendo dentro do previsto.  Se nascemos para praticar o mal e o praticamos, estaríamos cumprindo o nosso papel. Sendo assim,  por quê  então teríamos que pagar a pena em vez de receber um prêmio?  

Não podemos interferir em nosso DNA.
Mas a nós cabe
buscar o caminho da cura. 
É neste ponto que se opera o poder de decisão, de escolha – de não sermos multiplicadores da maldição, que não podemos mudar em sua “estrutura”, mas podemos fazer com que essa “maldição” se quebre ao confrontar-se com a nossa vontade  de  mudar, ainda que sua “semente” fique adormecida dentro de nós.
O benefício da Graça de Cristo só poderá ser usufruído pela nossa disposição em aceitá-la, pois essa oferta está diante de nós em todo momento. Poderemos viver entre os espinhos, os cardos e o sofrimento neste mundo, se aceitarmos que a Graça de Cristo nos basta, para que tenhamos o fortalecimento espiritual diante das tribulações e incertezas da vida temporal. 


Cabe aqui a passagem Bíblica de Ezequiel 18: 1- 4:


E veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:


Que tendes vós, vós que dizeis esta parábola acerca de Israel, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram?
Vivo eu, diz o Senhor Jeová, que nunca mais direis este provérbio em Israel.
Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá.

Essa passagem mostra-nos a responsabilidade individual de cada um. Aquele que pecar, morrerá. Neste caso, não mais os filhos pelos pais, os pais pelos filhos, apesar de em questões físicas e genéticas haver ligação quanto aos aspectos físicos, ambientais e até emocionais, dos quais poderá não livrar-se – porém, a decisão de mudar o futuro cabe a cada um, diante de suas percepções a respeito de sua vida no presente. Temos diante de nós, dois caminhos. A orientação é que escolhamos o caminho da vida para que vivamos. 

quinta-feira, 1 de março de 2012

“O ESPINHO NA ALMA”


A expressão dela estava sempre contraída. Não conseguia relaxar os músculos da face. Parecia um peso ocupando a região frontal da cabeça e,  com muito esforço,  tentava mantê-la erguida. Era a duras penas que se fazia parecer bem diante das pessoas, mas não conseguia convencê-las  de que estava contente. Ela sorria, mas seus olhos não brilhavam. Seu olhar parecia esconder grande sofrimento; por vezes parecia um grito silencioso de socorro.
Ela foi convencida a procurar tratamento psicológico, depois de tanto relutar, pois dizia que seu caso não tinha remédio e que sabia o que lhe causava esse sofrimento na alma, que a levava à depressão e uma dor profunda no peito que não passava.
O espinho só machuca quando o tocamos 
É preciso respeitá-lo.


Recorria a analgésicos, mas a dor não era física. Ela dizia que não precisava de acompanhamento de especialista, porque estava certa da causa de seu sofrimento, afirmando que preferia carregar esse peso como uma maneira de punir-se pelos erros que dizia ter cometido e, tudo o que sofria, fez por merecer. Mas mesmo assim, depois de muita insistência atendeu aos pedidos de pessoas queridas, que aconselhavam a ela procurar um psicólogo.
Começou a fazer terapia; e isso durou anos. Mas em si mesma, ela esgotava todas as possibilidades de mudança; ela não admitia perdoar-se a si mesma. Ela teve uma família linda; filhos; um marido dedicado; mas um caso extraconjugal, acabou com sua paz; engravidou e abortou para não trazer escândalo ao seu casamento. Ela tentou manter seu casamento após esse episódio, mas sozinha, em silêncio levava consigo o peso do erro cometido. Olhava para os filhos e o marido, mas não se sentia bem. O sentimento de culpa que sofria e a falta de coragem de falar sobre o assunto com o marido, tornava seu peso ainda mais insuportável. Não aguentou muito. Foi então que pediu o divórcio, dizendo que não amava mais o marido; mas no fundo, não era isso que ela queria. Ela desejava voltar no tempo para consertar o que fez. Precisava de uma nova chance. Mas como voltar? Como retornar nesse caminho cheio de bloqueios que ficaram para trás? Teria que reviver tristes experiências e sensações dolorosas, para remontar sua história. Impossível. O que ela tinha, era apenas o presente para o qual se fechou, mesmo diante de portas abertas para recomeçar. Mas até hoje ela não se perdoou. Sua vida paralisou, e vive em torno dessa dramática história. Apega-se a ela, como se fosse a maior prova de que um dia esteve viva e não soube aproveitar a vida; hoje, ela considera-se sem motivos para ter prazer nem esperança na vida. Nada a convence; nada a satisfaz; nenhuma palavra de conforto a conforta; nenhum argumento sobre perdãoé suficiente. Parece que tornou-se juíza de si mesma, decretando sua própria condenação.
Pagar penitência por um erro cometido, não elimina
o efeito do ato que nos condena. 


É verdade que na vida sofremos as consequências dos erros que praticamos. Mas, apegar-se aos erros e, tentar por meio da auto-punição pagar a pena, nada disso apagará o que foi feito. O orgulho, o sentimento de justiça própria podem acentuar ainda mais o sofrimento. A humildade em reconhecer que não somos auto-justificáveis e que precisamos de perdão e de nos perdoarmos, é que pode tranquilizar essa sensação de que temos que consertar o passado. Há coisas que jamais poderemos mudar; aceitar a Graça e o perdão de Cristo e nos sentirmos perdoados, pode não tirar por completo a nossa dor, mas pode nos fazer entender, que nada mais poderemos fazer por intermédio de nossos esforços. Talvez, com esse "espinho na carne" teremos que conviver a vida toda. É ele que nos faz lembrar o que somos e, por seus efeitos, entendermos que há sempre uma porta aberta para o nosso conforto; há sempre um remédio para aliviar a dor.