A vida teria muitas coisas irrecuperáveis e irremediáveis se não houvesse o oposto, o adverso, o antagônico. As adversidades, muitas vezes indesejáveis, podem sinalizar o ponto que deve ser trabalhado para sustentar o equilíbrio e a harmonia. Repudiar a oposição, como uma forma de defesa de posições rígidas, seria o mesmo que ignorar os sintomas de uma doença. O ser humano não detém a perfeição, e a vida proporciona o aprendizado a todo momento. Sem os sintomas torna-se difícil a procura por tratamento. É quase mortal uma doença que surge sem sintomas. Eles existem para sinalizar que algo não vai bem e possibilita a procura pela cura.
No âmbito político e social das relações humanas é preciso desenvolver um olhar mais interiorizado de nossas condições, comportamentos e pensamentos diante das coisas que nos contrariam. A crítica pode ser um exemplo disso. De fato, a crítica não constrói nada. O que constrói são as atitudes tomadas diante da crítica, após reflexão analítica sobre o ponto criticado. Quando a visão sobre a crítica mudar, no sentido de levar o indivíduo a uma autoavaliação, ela deixará de ser algo que incomoda. A crítica acaba despertando novas ideias, outras maneiras de fazer, se for considerada sob esse aspecto. O que torna a crítica dolorosa são sentimentos inseguros; complexos de superioridade ou inferioridade, como se a pessoa não tivesse o direito de errar.
Se alguma crítica ou reação adversa ao que fazemos causa incômodo, é hora de uma reflexão mais interiorizada. Quando entender as suas limitações e trabalhar para supera-las, ou se convencer de que não é necessário para você ir mais além, terá alcançado novos patamares em sua escala de crescimento. Por outro lado, o desejo exacerbado de obter aprovação dos outros pode levar a um outro extremo. Renegar as próprias características, a personalidade e juízo de valor para adequar-se ao que não se identifica consigo pode interferir em sua identidade e isso poderá causar problemas futuros. É preciso assumir-se como um ser plenamente consciente, atuante e reconhecedor de seu próprio valor. Observar as críticas e oposições sem ser dominado por elas, mas sobrepor-se a elas.
Não existe o lado de lá e o lado de cá. É tudo uma questão de identificação com o meio no qual nos inserimos.