sexta-feira, 25 de julho de 2014

SALVANDO RATOS


Quem se importaria com a vida de um rato? Que valor teria esse roedor para as pessoas a não ser o incômodo, a proliferação de doenças, o nojo, entre outros sentimentos de repulsa? É notório que tudo o que aprendemos na vida é, na maioria dos casos para a nossa proteção. Sem conhecimento podemos até conviver com o perigo inocentemente e, talvez por isso, muitas vezes, não somos afetados. A afetação, primeiro ocorre pela percepção e entendimento dos perigos e das ameaças. Sem essa percepção obtida pela informação objetiva, passamos a contar com a experiência subjetiva, pela qual experimentamos realidades e a partir delas formamos nossos conceitos e análises sobre o que os detentores da informação teórica explicam. Essa subjetividade que permeia a experiência pessoal é que leva muitos a se espantarem quando alguma coisa foge do senso comum, por exemplo. Há os que se pasmam quando alguém diz ter uma "barata de estimação." 

A maneira de convivermos com o perigo não diminui a periculosidade real, mas aumenta o nosso senso de proteção. A harmonização da convivência não ocorre simplesmente pela aniquilação ou extirpação daquilo que nos incomoda, mas respeitando os limites pelo entendimento do que somos em relação a esse perigo.

É nesse ponto que muitas vezes começamos a errar. É aprendizado comum de que tudo o que nos incomoda precisa ser eliminado. Talvez pelo entendimento de que a nossa vontade, a nossa segurança e o nosso desejo devem ser resguardados e buscamos respaldo para justificarmos nossa ofensiva.
Vivemos numa sociedade assim. Parece que os “ratos” precisam ser eliminados quando “invadem” o nosso espaço a procura de alguma coisa. Quem se importaria com “ratos?” Mas muitas vezes ignoramos o fato de estarmos pisando em terreno inimigo e consequentemente nos tornamos inimigos também.  
Certa vez ocorreu uma experiência comigo que foge ao senso comum. Eu salvei um rato! O salvei, e o levei para o lugar de onde saiu. Mas, o que ele procurava nos corredores de uma emissora de rádio, quando assustados, alguns colegas e a zeladora munida com uma vassoura corriam para tentar alcançá-lo e dar um fim no animal? Foi no momento em que o bicho encurralado no canto da parede que pedi à colega da limpeza um balde. Cerquei o animal ali, estressado, ofegante. Seus olhos esbugalhados e bigodes trêmulos pela respiração acelerada, totalmente indefeso. E atrás, vozes que diziam: "dá logo um fim nesse bicho nojento!"

Mas em frações de segundos, vendo a imagem sofrida daquele roedor, em minhas mãos, senti dó. Os olhos arregalados olhando para mim como pedindo socorro. A respiração ofegante pela estressante perseguição que sofreu. Foi assim que encurralado para dentro do balde, e sem poder escapar, levei o bicho para a rede de esgoto da rua, soltando-o dentro do ralo à beira do meio fio paralelo à calçada.

Quando tentamos justificar nossas razões para aniquilar,
invertemos os papéis. 


Que serviço estaria eu prestando se eliminasse aquele rato? Seria apenas um rato a menos? Talvez diante  dos  amigos receberia aplausos. Mas  às  custas do sacrifício de um "inseto", que não tem valor algum. Mas observe como estamos vivendo hoje? Não estaríamos buscando ganhar aplausos e condecorações, fazendo coisas sem valor?

Muitas vezes queremos mudar nossa vida e nossa história, eliminando “ratos”, mas de fato, esses ratos precisam apenas estar no lugar deles. Precisamos aprender a avaliar o que é realmente nocivo para a nossa vida. Há coisas que não podemos eliminar, apenas precisamos entender para buscar maneiras de sobreviver pela informação, pelo conhecimento das coisas e o autoconhecimento. Viveremos o bem e o mal de cada dia. Isso é fato. Mas respeitando-nos e respeitando. Se preciso for, fugir da aparência do mal se não podemos lidar com ele sem nos tornarmos presas de suas ações. Não podemos nos livrar da convivência entre o bem e o mal, entre o limpo e o sujo; cada qual tem oportunidades para cumprir seu papel, até que a renovação de todas as coisas ocorra. O mal por si, se  destrói. Nossa intervenção contra o mal de maneira direta e agressiva poderá inverter os papéis e o entendimento de quem somos e o que queremos. O mal não terá fim por mãos humanas.
 

E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.
E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido.E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.
E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida.”

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