A liderança equivocada
Há os que vivem mudando os móveis de lugar para encobrir os buracos na parede
Lembro-me bem de uma história contada
pela professora de comunicação e expressão quando cursava o ginasial. Era a de um tal de Américo Pisca-Pisca. Ele tinha o
hábito de pôr defeito em tudo que estava à sua volta e criticava até a
natureza. __Vejam só, dizia ele, apontando para uma árvore. _ Veja esse pé de
jabuticaba enorme, sustentando frutas tão pequenas. Ao apontar para a
aboboreira disse: _ Veja que frutos tão grandes esparramados pelo chão. Se eu
pudesse reconstruir a natureza, eu faria o contrário.
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Um líder jamais esconde seus defeitos para forjar competência |
É fato que todos desejam sair da
mesmice, do que chamam de rotina e buscam por algo diferente. Certo dia eu
estava zapeando os canais da
televisão, procurando alguma coisa boa para assistir, algo raro ultimamente, quando me deparei com uma cena de um desenho
animado. Achei curioso o que estava passando e parei para assistir a cena do
personagem principal que havia sido colocado na máquina do tempo. Ao chegar no passado, esse personagem do futuro viu
um homem pedalando uma bicicleta com muita dificuldade, com “rodas”
quadradas de madeira. Tentando ajudar, com seu próprio bico, começou a
arredondar as duas “rodas” quadradas.
Ao terminar, a bicicleta ganhou velocidade e esborrachou-se ao bater contra uma
rocha, deixando seu ocupante ferido com estrelinhas
circulando ao redor da cabeça. Minha esposa, que estava junto comigo assistindo
àquela cena disse uma frase que me levou a pensar: “Ele conseguiu inventar a roda, mas esqueceu dos freios”.
Muitas vezes queremos fazer coisas
diferentes e estar à frente do nosso tempo, queimando etapas que deveriam ser
cumpridas. Em nossa vaidade, queremos
chamar atenção para as nossas propostas, sem considerar os desafios a
enfrentar. Fazer diferente só para sair
da rotina e não ser igual aos outros, sem um propósito sólido e real, pode
acabar em tragédia.
Toda construção segura deve ser feita sobre uma base, dentro
de seu tempo e espaço. É preciso responsabilidade nas ações. Em questões de liderança,
são necessários cálculos sobre os riscos, e tudo o que for feito, seja feito
sobre bases sólidas, observando as experiências à nossa volta. A roda já foi inventada; precisamos apenas
faze-la rodar, mas não esquecer da manutenção
dos freios.
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Há os que se equivocam nas ações. Um líder não é aquele que é servido. É aquele que serve. |
Todos os que têm o poder nas mãos de
liderar, de promover mudanças devem ter objetivo, perseguir metas e há os que
tomam decisões equivocadas, sem ao menos terem elaborado o plano B. Alguns são
ousados, a ponto de correr riscos, e realizarem
mudanças admiráveis em
princípio. Mas isso não deve ser feito de maneira
inconseqüente, sem calcular os riscos e planejar sobre como sobreviver caso
suas investidas não funcionem como pretendiam.
Há os que promovem mudanças
superficiais; a preocupação é com a fachada, com a cor da parede, a disposição
dos móveis, a aquisição de imóveis, e suas mudanças são até vistas, porém não
levam, de fato, ao que é importante, ou
seja, o produto final, o que seus consumidores estão recebendo. As mudanças
internas precisam ser percebidas externamente. E muitas, vezes, não conseguem
sair porta a fora. Fica tudo em casa mesmo. Decisões erradas morrem no ninho;
recursos são gastos em investimentos que
não alcançam os objetivos. Há os que trabalham como num laboratório de
experimentos. Se der certo deu; se colar, colou. Há os que mudam os móveis de lugar, por vezes,
para encobrir os buracos na parede. O problema não é o local onde os móveis
estão, são os buracos na parede. Há os
que vivem discutindo efeitos; gastam-se horas para tratar sobre o óbvio, algo que só necessitaria de ações para
acontecer.
Cada empresa tem seus líderes; cada
líder tem seus liderados. É aí que começa o progresso e o crescimento de
qualquer empreendimento. Primeiro, o projeto, as metas a serem cumpridas e uma
equipe competente para fazer a roda
rodar. Essa é a parte mais importante de qualquer empreendimento: o material humano. Todo investimento em
máquinas e ferramentas não deve descartar a valorização da mão de obra. É ter
visão para colocar seus liderados certos no lugar certo para desempenhar
funções específicas que exijam conhecimento específico. Todo
crescimento desordenado não persiste.
É como casa construída sobre a areia.
Tive a oportunidade de entrevistar um
empresário do ramo da educação que atua na cidade de Campos dos Goytacazes no
norte do Estado do Rio de Janeiro. À época, sua escola completava 30 anos
de
atividades e somava 1.500 alunos. Perguntei qual a fórmula usada por ele
para alcançar o sucesso no empreendimento. Ele explicou que o crescimento começa fincando
raízes. É com raízes firmes, profundas, que é possível crescer para os lados,
para frente e para trás, para ganhar equilíbrio e estabilidade. Só depois,
pode-se crescer para cima e construir com segurança. O empresário também
revelou em sua entrevista que, quem começa grande, dificilmente ganha
experiência para enfrentar os desafios e
adversidades, a não ser que tenha um bom
suporte ou parceria com empresas já consolidadas. É contratar bons funcionários,
desde o faxineiro, valorizando-os. Ele encerrou dizendo que um time mal
treinado pode derrubar o técnico. Para isso, ele precisa conhecer o potencial
de cada um para que cada qual esteja em sua real posição.
Ouvi certa vez de um novo administrador
que chegou para dirigir um hospital. Ao passar pelos corredores de UTI,
percebeu que havia quartos vazios com
todos os equipamentos ligados, luz, ar-condicionado. Ele ficou bravo com aquele desperdício. Começou então a desligar os equipamentos o ar-condicionado
e apagou todas as luzes as luzes do
local. Pouco tempo depois a enfermeira chefe chegou. Ao ver que os equipamentos
estavam todos desligados, ficou
extremamente furiosa com o que viu e
procurou saber quem havia feito aquilo. O diretor ainda estava no corredor e,
com ar de supremacia respondeu: fui eu quem desligou, precisamos economizar
energia. E prosseguiu - muito prazer, estendendo a mão para um aperto: Eu sou o
novo diretor do hospital. A enfermeira
então respondeu: desculpe-me a franqueza, mas o senhor como novo diretor do hospital, deveria saber que
esses equipamentos devem estar ligados 24 horas.
Há certos equívocos em algumas
escolhas de quem vai ocupar determinado cargo que necessita de pessoas com
qualificação para a área, ou pelo menos humildade para obter informações sobre
o funcionamento das coisas, que estejam fora de seu conhecimento. Pensar apenas
em lucros e prejuízos, administrar uma empresa pensando apenas no fluxo de
caixa, pode deixar outros setores desguarnecidos. Esse diretor de hospital
poderia ser um bom economista.
Numa das campanhas para prefeito do
Rio de Janeiro, um dos candidatos dizia: “Eu
sei quanto custa a pedra, quanto custa a brita, o cimento e a areia. No meu
governo não vai ter superfaturamento”. Ele era dono de uma importante
construtora na época. Ter informações sobre o preço dos materiais é diferente
de impedir um superfaturamento como ele sugeria em sua campanha. O candidato
tinha conhecimento sobre construção, pois era um engenheiro civil e dono de uma
empresa do ramo. Daí, a ser um prefeito bem sucedido em sua administração, há
uma distância muito grande. Ele poderia ser um bom secretário de obras pela
experiência adquirida.
Há administradores de formação que
nunca tiveram a oportunidade de dirigir uma empresa de verdade, onde precisam
liderar pessoal; gerir e captar recursos para o desenvolvimento do negócio.
Administrador que só trabalha focado em receitas e despesas de recursos fixos, tende a estagnar-se.
Os que nunca tiveram que enfrentar o
desafio de levantar uma empresa à
beira da falência e resgatar seu crescimento
e sua credibilidade, talvez não
tenham experiência com as adversidades que circundam o empreendimento. As
informações técnicas, na prática, podem funcionar de maneira diferente. É
preciso mais vocação, visão e conhecimento do que o que se aprende nas
apostilas universitárias.
Numa conversa que tive com um de meus
anunciantes do programa de rádio, ele se mostrou preocupado com o futuro dos
negócios dele. Ele tinha dois filhos e apostava no mais velho para dar
continuidade aos projetos da empresa. Só que o mais velho mostrava-se um boêmio,
já com seus quase 20 anos de idade. Vivia às voltas com as garotas, passeando
de carro, torrando dinheiro nas
sorveterias, restaurantes e bailes. Um fato curioso que ele contou: o filho
mais novo, de 14 anos, era o seu braço direito. Era comum vê-lo na loja ainda
de uniforme escolar e um jaleco sobre a roupa como todos os outros
funcionários. Ele saía da escola direto
para o comércio do pai. Sabia de cor os
preços de todos os materiais disponíveis nas prateleiras; mostrava-se
interessado em saber sobre fornecedores e preços praticados por eles e na
ausência do pai ele tomava conta da loja com mais de 20 funcionários na época.
Era ele quem estava na frente da porta, com sorriso reluzindo em seu aparelho
ortodôntico, cumprimentando os clientes e encaminhando-os aos vendedores. Essa
disposição estava no sangue, sem nenhum incentivo direto do pai, enquanto que
as tentativas dele para que o outro filho mais velho se interessasse pelos
negócios foram em vão. Hoje,
esse menino é dono de uma rede de lojas do ramo de papelaria.
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O líder está sempre disposto a conduzir seus liderados. |
Certa vez numa das empresas que
trabalhei, houve mudança de um chefe de setor, e um dos colegas disse que o
próximo seria como pipoca em chapa quente; faria a limpa onde tivesse gente sem fazer nada. Fiquei pensando nesse caso e
refleti. Não é necessário nenhum especialista para descartar o que está
sobrando. Até nas brincadeiras infantis, os que estão sobrando, saem. É atitude
óbvia. E um líder deve agir além do óbvio. Por outro lado, uma empresa em crescimento
contrata, não demite. É muito confortável demitir um funcionário sob o pretexto
de conter despesas e, isso pode significar incompetência gerencial. O desafio
que exige grande competência de uma liderança é fazer gerar recursos para que a
empresa continue crescendo e contratando.
Um líder visionário, deveria, ao contrário, conhecer seus liderados, o
potencial de cada um e como utilizá-los com sua força de trabalho e capacitação
para desenvolver os projetos da empresa.
Se numa empresa há gente ociosa, ou atuando fora de sua especialidade, é preciso rever a visão
da liderança. A penalização de um trabalhador também pode ocorrer por omissão de
seu líder em tomar atitudes para que a situação não chegue a esse extremo. Há muitos
inocentes competentes pagando o preço da inoperância gerencial e,
uma liderança injusta nesse ponto,
está fadada ao fracasso.