segunda-feira, 24 de março de 2014

PARA QUÊ TORNAR O DIFERENTE IGUAL?





Numa sociedade em que se aprende que para incluir alguém tem que elevá-lo ao status de igualdade aparente, por outro lado, aprende-se também que as diferenças devem ser rejeitadas. Faz-se necessário “tornar” alguém igual por medidas legais apenas para ser aceito. É um olhar distorcido do real sentido do ser, comprometendo o entendimento do valor de cada indivíduo em sua essência.


Há quem considere que igualdade imposta não é igualdade. A declaração de que todos são iguais perante a lei trata especificamente do ser humano no sentido genérico independentemente de suas características que se exteriorizam por questões sociais, étnicas ou religiosas.

Numa sociedade em que essa “igualdade” sob o ponto de vista humano ainda é exigida com base em outros pretextos como o respeito ao outro e suas liberdades individuais percebe-se, paralelamente que o tema ganha outras vertentes até mesmo pelas distorções do entendimento do que seria, de fato, essa igualdade. Diante dessa realidade, abrem-se outros precedentes para a criação de regras que objetivam garantir que a igualdade seja um direito respaldado por lei. 




A igualdade passa a ser percebida com  antagonismo quando é avaliada tão somente pelas conquistas do cidadão e a partir delas, sua inserção em determinado grupo social; o poder de consumo; a capacidade de possuir objetos de desejo, que naturalmente é realidade de classes sociais mais abastadas. Por outro lado, quando as diferenças sociais não são aceitáveis como elemento comum e que também fez parte da sociedade mundial ao longo da história, essa igualdade “utópica” passa a ser perseguida de maneira superficial furtando a reflexão de um olhar mais aprofundado, principalmente no histórico de vida de cada indivíduo; seus esforços pessoais para a conquista de seus objetivos; o olhar sobre as dificuldades e limitações do outro e sua postura no relacionamento com as diferenças existentes ao seu redor. Alimentamos a ideia de que a “horta” do vizinho é mais verde do que a nossa; que a profissão do outro é mais rentável e perseguimos a inveja do status alheio, ao invés de aprendermos a olhar para nós mesmos e nossas competências, descobrindo e desempenhando nosso papel na sociedade como seres distintos trabalhando para propósitos comuns.  A igualdade ganha sentido quando as percepções sociais e humanas ultrapassarem o limite da aparência e das manifestações externas, fazendo brotar o entendimento de que cada indivíduo é único, com  eficiência e deficiência distintas e por meio dessa percepção tornar-se plenamente atuante em todas as escalas que desejar, valendo-se dessa individualidade e com capacidade de lidar com o meio sem sentir-se acuado e alijado de seus direitos.

A visão ilusória (fantasiosa) de igualdade faz o indivíduo perder a essência de seu real valor e o sentido que pode dar à sua própria vida, por seus próprios méritos, não por concessão e respaldos criados para garantir seu direito à igualdade.

Na comunidade escolar, por exemplo, fala-se de “inclusão” como forma de garantir acesso igual à educação a uma criança com necessidades especiais. O direito à educação é igual, mas a forma de tratamento a essa criança para que obtenha necessariamente suporte educacional adequado à sua necessidade, precisa ser diferente. Num universo de igualdade genérica (do ser humano), as diferenças externas precisam ser tratadas como diferenças para que seja produtiva em seu resultado, senão será uma igualdade fantasiosa, teórica. A igualdade de gênero (humano) é natural e, essa percepção, não  pode ser distorcida pelas condições econômicas, raça, credo, ideologia, religião, sexo, entre outros.
Esse princípio de igualdade é defendido pela filosofia cristã, em que Jesus convidava seus discípulos à unidade por meio de seus ensinos. Quando há unidade de pensamento e consciência, as diferenças são tratadas de maneira humanizada, assim como Cristo ensinou que as pessoas devem se amar, umas as outras. Essa mensagem é tão importante para o cristianismo, que foi expressa como um mandamento para seus seguidores. Jesus esteve entre pecadores; a mulher adúltera; o cobrador de impostos ilegais, para testemunhar de seu caráter de amor até mesmo àqueles que viviam à margem da sociedade. Cada qual recebia tratamento diferenciado, com abordagens diferenciadas de acordo com as necessidades individuais, cuja proposta era reintegrá-los à vida em sociedade de maneira digna. O amor unifica os propósitos. Onde há amor e respeito, a lei perde o seu sentido. E igualdade deixará de ser impositiva, mas será abraçada como um propósito de vida, de respeito e dignidade para com o semelhante. Se as diferenças não forem tratadas como diferenças hoje, amanhã poderão trazer consequências de uma ilusão. A diferença é diferente, e tem o seu lugar.