Numa sociedade em que se aprende que para incluir alguém tem que elevá-lo ao status de
igualdade aparente, por outro lado, aprende-se também que as diferenças devem ser
rejeitadas. Faz-se necessário “tornar” alguém igual por medidas legais apenas para
ser aceito. É um olhar distorcido do real sentido do ser, comprometendo o entendimento do valor de cada indivíduo em sua essência.
Há quem considere que igualdade
imposta não é igualdade. A declaração de que todos são iguais perante a lei
trata especificamente do ser humano no sentido genérico independentemente de
suas características que se exteriorizam por questões sociais, étnicas ou
religiosas.
Numa sociedade em que essa “igualdade” sob o ponto de vista humano
ainda é exigida com base em outros pretextos como o respeito ao outro e suas
liberdades individuais percebe-se, paralelamente que o tema ganha outras
vertentes até mesmo pelas distorções do entendimento do que seria, de fato,
essa igualdade. Diante dessa realidade, abrem-se outros precedentes para a
criação de regras que objetivam garantir que a igualdade seja um direito
respaldado por lei.
A igualdade passa a ser percebida
com antagonismo quando é avaliada tão
somente pelas conquistas do cidadão e a partir delas, sua inserção em
determinado grupo social; o poder de consumo; a capacidade de possuir objetos de
desejo, que naturalmente é realidade de classes sociais mais abastadas. Por
outro lado, quando as diferenças sociais não são aceitáveis como elemento comum
e que também fez parte da sociedade mundial ao longo da história, essa
igualdade “utópica” passa a ser perseguida de maneira superficial furtando a
reflexão de um olhar mais aprofundado, principalmente no histórico de vida de
cada indivíduo; seus esforços pessoais para a conquista de seus objetivos; o
olhar sobre as dificuldades e limitações do outro e sua postura no
relacionamento com as diferenças existentes ao seu redor. Alimentamos a ideia
de que a “horta” do vizinho é mais verde do que a nossa; que a profissão do
outro é mais rentável e perseguimos a inveja do status alheio, ao invés de
aprendermos a olhar para nós mesmos e nossas competências, descobrindo e desempenhando
nosso papel na sociedade como seres distintos trabalhando para propósitos
comuns. A igualdade ganha sentido quando
as percepções sociais e humanas ultrapassarem o limite da aparência e das
manifestações externas, fazendo brotar o entendimento de que cada indivíduo é único,
com eficiência e deficiência distintas e
por meio dessa percepção tornar-se plenamente atuante em todas as escalas que
desejar, valendo-se dessa individualidade e com capacidade de lidar com o meio
sem sentir-se acuado e alijado de seus direitos.
A visão ilusória (fantasiosa) de
igualdade faz o indivíduo perder a essência de seu real valor e o sentido que
pode dar à sua própria vida, por seus próprios méritos, não por concessão e
respaldos criados para garantir seu direito à igualdade.
Na comunidade escolar, por
exemplo, fala-se de “inclusão” como
forma de garantir acesso igual à educação a uma criança com necessidades
especiais. O direito à educação é igual, mas a forma de tratamento a essa
criança para que obtenha necessariamente suporte educacional adequado à sua
necessidade, precisa ser diferente. Num universo de igualdade genérica (do ser
humano), as diferenças externas precisam ser tratadas como diferenças para que
seja produtiva em seu resultado, senão será uma igualdade fantasiosa, teórica. A
igualdade de gênero (humano) é natural e, essa percepção, não pode ser distorcida pelas condições
econômicas, raça, credo, ideologia, religião, sexo, entre outros.
Esse princípio de igualdade é
defendido pela filosofia cristã, em que Jesus convidava seus discípulos à unidade por meio de
seus ensinos. Quando há unidade de pensamento e consciência, as diferenças são
tratadas de maneira humanizada, assim como Cristo ensinou que as pessoas devem
se amar, umas as outras. Essa mensagem é tão importante para o cristianismo,
que foi expressa como um mandamento para seus seguidores. Jesus esteve entre
pecadores; a mulher adúltera; o cobrador de impostos ilegais, para testemunhar
de seu caráter de amor até mesmo àqueles que viviam à margem da sociedade. Cada
qual recebia tratamento diferenciado, com abordagens diferenciadas de acordo
com as necessidades individuais, cuja proposta era reintegrá-los à vida em
sociedade de maneira digna. O amor unifica os propósitos. Onde há amor e
respeito, a lei perde o seu sentido. E igualdade deixará de ser impositiva, mas
será abraçada como um propósito de vida, de respeito e dignidade para com o
semelhante. Se as diferenças não forem tratadas como diferenças hoje, amanhã
poderão trazer consequências de uma ilusão. A diferença é diferente, e tem o
seu lugar.