Uma graça alcançada traz satisfação e sentimento de gratidão. Há os que se sacrificam para demonstrá-la |
Somos
pecadores. Pecadores arrependidos, não pecadores iníquos praticantes
voluntários e conscientes dos erros que nos fazem pesar a consciência. Pois se
assim o fazemos, não estamos pecando contra Deus como nos fazem pensar e, que
por meio disso, tememos o castigo divino. Isso pode nos fazer pedir perdão a
Deus, por um erro que nós temos que
reparar diante de nós mesmos e de quem
consequentemente sofreu pelos erros que
cometemos. Na realidade, quando sabemos
fazer o que é o correto e não o fazemos, o pecado é contra nós mesmos.
"Aquele que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado".
Passamos a vida vivendo uma religião como "pagadores" de promessas e
dívidas com Deus, em vez de experimentarmos a libertação que Cristo nos
concedeu. A "doutrina" da miserabilidade humana tem produzido crentes
supersticiosos, orientados a cumprirem exigências para alcançarem a Deus; a
oração ou reza, a leitura da bíblia ou qualquer outra literatura religiosa, não
servem de outra coisa a não ser uma espécie de "amuleto" de
proteção. Há quem diga que "se ficar um dia sem rezar, tudo dá
errado". Condiciona-se o fato de as coisas darem errado pela reza
esquecida, ou pela Bíblia não lida, sem considerar que a prática da presença de
Deus é algo que pode estar impregnado em nossa vida ao bebermos da fonte, não
de seus afluentes. Assumimos o tempo todo que somos pecadores e miseráveis e escondemos nossas responsabilidades por trás do discurso de que não somos "perfeitos", sem, contudo, mirar nosso olhar para Cristo, a nossa justiça.
Aprendemos a sacrificar o corpo, ao invés de cultuarmos com
o nosso entendimento de que o culto racional é que nos trará libertação.
Preferimos aceitar que somos "bichinhos",
"insignificantes", "miseráveis", o que de fato não
trazem resultados práticos em nossa vida. Pagamos a penitência diariamente, e tudo
permanece como antes; nada muda e parece que Deus não opera o milagre da
transformação que nos fazem entender que Ele opera. Mas segundo Paulo, a
transformação vem com a renovação do entendimento. Essa é a nossa parte, é
responsabilidade nossa. O mesmo Paulo que em determinada circunstância
autodenominou-se miserável, foi o mesmo que disse que quando Cristo o
fortalecia, ele era capaz de vencer todas as dificuldades; foi o mesmo que
disse não se envergonhar do evangelho de Cristo, o poder de Deus que dá ao
homem a possibilidade de salvação.
Os exemplos dos homens de Deus do
passado, as frases, os pensamentos, não deveriam transformar-se em “doutrinas”,
pois tudo o que diziam e faziam, era de acordo com suas experiências, que
certamente não ocorre de igual modo, com a mesma intensidade na vida de outras
pessoas. O desejo de viver essas experiências, de alcançar a “perfeição”
tão perseguida pelos crentes, é demasiada
carga que põem sobre seus ombros, que muitas vezes declina-se para a ruína e
descrença. Se Paulo considerou-se miserável,
certamente foi num momento em que ele se deparou com sua fraqueza; a
miserabilidade não seria uma obrigação do ser humano, mas esta é uma condição.
Davi foi considerado um homem
“segundo
o coração de Deus” – havia motivo para isso. Queremos nos tornar
segundo o coração de Deus por um esforço “farisaico”, as vezes, buscando cumprir nossas obrigações como crentes, de
igual modo trazemos de volta essa carga pesada de responsabilidades sobre os
nossos ombros.
A Bíblia não deveria ser utilizada como um "amuleto da sorte" |
Com essa mentalidade, criamos
crentes de baixa auto estima;
depressivos, tristes por erros que os
fizeram entender que cometeram. Por outro lado, essa “depressão” espiritual,
ocorre quando sentimos que não
alcançamos o patamar espiritual que imaginamos ou nos fizeram imaginar que
podíamos alcançar. É assim que muitas vezes o sistema religioso escraviza as pessoas. Com um evangelho que não leva à libertação, mas a um sentimento de culpa, pela insuficiência das nossas ações.
É notório que ainda hoje vivamos
um evangelho penitente, supersticioso, das ações permutativas em que trocamos
nosso bom comportamento por uma boa ação de Deus a nosso favor e ignoramos que
é a graça de Cristo operada e aceita em nosso viver, que promoverá toda a
mudança que almejamos. Mas ainda não fomos convencidos de que a graça de Cristo
basta. Queremos mais. Esforçamo-nos sobremaneira porque não estamos satisfeitos
e, mesmo dizendo entender que a graça é o suficiente, nossas ações ainda são
confusas. Ainda nos preocupamos com relatórios; com a participação ativa numa
obra missionária e isso, muitas vezes
ocorre de maneira pesarosa, “obrigatória”, como se fosse o
cumprimento do nosso dever, e que dele dependeria a nossa salvação. Quando
aceitamos a graça de Cristo, quando ela basta em nossa vida, tudo fluirá de
maneira natural, contagiante e multiplicativa. O entendimento contrário, ou seja, pelos nossos próprios
méritos, pode ser um grande empecilho para que a graça se opere verdadeiramente
em nossa vida.
A humilhação perante Deus como
uma medida cerimonial oriunda do entendimento de nossa dependência de dEle, não
surtirá efeito se não for acompanhada de arrependimento consciente e de alegria
pela libertação alcançada por sua graça. Dizer que somos miseráveis pode não
alterar nossa condição, mas a aceitação da regeneração em Cristo trará grandes
mudanças.